quinta-feira, 24 de abril de 2008

Os símbolos e a vontade







Epígrafe

De palavras não sei. Apenas tento
desvendar o seu lento movimento
quando passam ao longo do que invento
como pre-feitos blocos de cimento.

De palavras não sei. Apenas quero
retomar-lhes o peso a consistência
e com elas erguer a fogo e ferro
um palácio de força e resistência.

De palavras não sei. Por isso canto
em cada uma apenas outro tanto
do que sinto por dentro quando as digo.

Palavra que me lavra. Alfaia escrava.
De mim próprio matéria bruta e brava
----expressão da multidão que está comigo.


(J. C. Ary dos Santos)

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Guardador de ...papéis

Está bem, dono, fica descansado. Eu guardo-te os papéis até tu voltares, não deixo ninguém mexer, nem ela...

Olha, até me vou deitar. Assim os teus papéis ficam mais protegidos e tu podes demorar o tempo que quiseres que eu não me canso de esperar.
Oh diabo!! Como é que os papéis voaram? Abriram a porta ou andaram práqui a dançar o tango, sem eu dar por isso? Eu só dormi um bocadinho... E agora, tudo misturado no chão, que explicação vou eu dar ao dono? Dona minha, por favor, ajuda aqui!!

domingo, 20 de abril de 2008

Metamorfoses

Figueira verde-bebé


Esboços de ameixas

Promessas de cerejas

Uvas em botão


A natureza, em murmúrios, a conversar comigo

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Faz-de-conta(paráfrase muito imperfeita)

Dona minha, anda, vamos brincar um bocadinho! Espera, vou entrar no reino do faz-de-conta

Agora eu era um lince e estava emboscado numa caverna (os linces emboscam-se em cavernas? Ah, não tem importância, pró caso...)
Eu enfrentava as maiores e mais perigosas feras da selva, incluindo cobras e lagartos...
Agora eu era o Rei, e pela minha lei tinha de ser o mais forte, o mais responsável, o mais atento

Finge que agora isto é um rio, bravo, revoltoso e cheio de perigos, mas que tenho de enfrentar

Finge ainda que eu era o teu bicho preferido e me estendias um tronco para eu conseguir fazer a travessia
Cheguei à outra margem! Não, não fujas, presa! Mas a presa sumiu na selva sem me avisar...
Agora era fatal que o faz-de-conta terminasse assim! É que para lá desta selva e deste rio só há um ... plácido jardim!

domingo, 13 de abril de 2008

Exteriores toledanos-Partida







Retrato de cidade
A cidade surge-nos ao longe, imenso e plácido mar de ruelas emaranhadas em tons ocre e volumetria homogénea, amortecida à distância pela leve neblina que sobe do rio, a essa hora azul por espelhar sem constrangimentos o céu transparente e doce.

O distanciamento porém ilude-nos. A cidade, à medida que nos aproximamos, revela um labiríntico sobe-e-desce de ruas, esquinas, passagens, praças e becos, tecido arquitectónico de traça medieval erodido pelo tempo. A quebrar a mansidão da planície urbana sobressai, majestosa e vigilante, a torre alta da catedral, farol místico que derrama sobre a cidade a insinuação de uma religiosidade ecléctica. Porque esta função já terá sido desempenhada, em tempos outros, por minaretes e cúpulas sefarditas.

Fusão de trevas e luz, berço antigo de diversas e divergentes culturas, a cidade convida-nos a comungar da esperança de que a tolerância pode ser um sentimento ecuménico.

E ao sairmos, fica no ar, perfumado de jasmim, o sinal de uma promessa de paz. Que nós guardamos como possível, apesar dos homens, levianos, nos apregoarem tempestade.

Cidade : território de emoções, avassalador e terno.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Interiores toledanos











Neste dia nocturno de primavera adiada, refugio-me com prazer na memória dos interiores de alguns edifícios toledanos, isentos de tempo e das suas inconstâncias, e onde se pode pressentir, talvez, o sabor da eternidade. E vou ficar-me por aí, até que o sol regresse.


sábado, 5 de abril de 2008

Estou farto!

Outra vez fotografias de Toledo? Mas quando é que isso acaba? Prometeste que hoje era eu...

Ainda por cima não estavam lá as telas todas do Greco, para quê continuar a falar da cidade?
Não quero ver mais fotos dessas! Fecho os olhos e só os abro quando puseres uma foto minha

E amuo, e faço greve de ronrons, e não há marradinhas para ninguém durante um mês inteiro!
O quê, nem sequer posso ir espairecer para cima da minha macieira preferida? A árvore está vestidinha de renda e eu posso estragar? Então ...
...vou ficar assim, zangado e em greve de mimos, até fazeres um post com fotos minhas.
Estou farto!

quarta-feira, 2 de abril de 2008

As Olaias de Toledo




Também chamada árvore do amor (porque as suas folhas têm a forma de um coração), ou árvore de Judas (porque parece que Judas se enforcou numa desta árvores), as olaias espalham pela cidade pinceladas rosa primaveril.
Mas para contrabalançar o tom poético da informação, para os espíritos científicos e para repôr a verdade , a árvore chama-se de facto cercis siliquastrum... Belíssima!

terça-feira, 1 de abril de 2008

Toledo, a tri-cultural








A cidade abre-nos as portas e convida-nos a peregrinar pelo intricado desenho das ruelas medievais, ensinando-nos em cada esquina ocre a história da sua tolerância cultural, através das fachadas das diversas sinagogas, mesquitas e igrejas, que permanecem há séculos lado a lado, indiferentes ao desvario dos homens.