segunda-feira, 30 de maio de 2011

Fracasso

Estou aqui há dez minutos e ele não se mexe! Foi mesmo um fracasso, esta caçada...

Antes brincar com um saquinho de plástico enrolado... Ao menos faz barulho!
Já viste? Agora meteu-se aqui debaixo e não quer sair. Que seca!
Donaminha, está prometido: não torno a caçar lagartos. Não dão luta nenhuma!
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My funny Valentine, Gerry Mulligan Quartet

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Tecendo rendas e amizades em Vila do Conde

Viajar é descobrir. Aquilo que há e o que já houve.
Vila do Conde, cidade luminosa envolvida em águas e enformada na história granítica dos seus edifícios bem conservados, é como uma senhora idosa e sofisticada que serena e graciosamente se deixa descobrir.
Comecei por descobrir que foi espoliada dos seus estaleiros navais pela indiferença e incúria criminosas de alguns homens. Dessa arte destruída nos dá testemunho orgulhoso o Museu da Construção Naval, instalado no magnífico edifício da Alfândega Régia.

Descobri depois que as mulheres, teimosamente, continuam a tecer as rendas de bilros, assumindo o papel quotidiano de fadas temporárias que, contra a severidade dos dias, insistem em criar fulgurações de beleza. E de perpetuarem o seu saber, ensinando-o às novas gerações.
Por fim descobri a dignidade e a elegância das suas ruas estreitas e dos largos silenciosos.
E , mais importante que tudo, descobri que uma cidade não nos serve de nada se não partirmos com a certeza calma de termos começado a tecer, de forma lenta mas segura, uma renda de amizades com os nossos anfitriões.
Valeu a pena a viagem!
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Sophisticated Lady, Duke Ellington

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Frémito






Agora sei que a perfeição também tem perfume

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Konsert i a-dur 2, Antonio Vivaldi(I musici di Zagreb)

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Ironia, singularidades e beleza

Alguns dias passados sobre a visita anual, com os afectos já apaziguados, há agora distanciamento suficiente para apontar aspectos inusitados e irónicos da cidade dos canais:
Uma loja no bairro do Jordaan, onde a noção de retrosaria é alegremente subvertida, mas onde também se pode comprar toda a espécie de botões
Perguntamo-nos várias vezes ao dia como se aguentam em pé os velhos edifícios setecentistas, mas nunca pensámos que os novos precisassem de cariátides para os suster!
O que um gato amsterdamer não faz para cumprir a sua obrigação de caçador de ratos!
Primeiro pensei que fosse uma escultura! Mas não, era mesmo uma garça viva em cima de um carro, numa qualquer rua da cidade, que diariamente é alimentada pelos vizinhos e por ali se fica...
Numa cidade onde há museus de tudo, fui encontrar no Museu dos Gatos, entre esculturas, pinturas, cartazes, brinquedos e gatos vivos, uma múmia de um gato egípcio datada do séc.I da era cristã!
Não há que enganar: uma cegonha pousada numa janela é sinal inequívoco de que naquela casa acabou de nascer uma criança, e de que mãe e bebé se encontram de boa saúde!
E se, ao sair à rua na manhã do último dia de Abril, se vir a cidade transformada numa enorme feira da ladra, ao mesmo tempo que um carnaval inusitado e cor-de-laranja desfila pelas ruas e canais apinhados, não há que ficar admirado: são apenas os Amsterdamers a festejar o seu dia nacional.
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These foolish things, Charles Mingus (Mysterious Blues)

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Centro de mesa












Espelho meu, espelho meu, diz-me se há alguém com um centro de mesa de jardim mais belo do que eu!


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In your own sweet way, Miles Davies


segunda-feira, 2 de maio de 2011

Canção


Tinha um cravo no meu balcão;

Veio um rapaz e pediu-mo

-mãe, dou-lho ou não?

Sentada, bordava um lenço de mão;

veio um rapaz e pediu-mo

- mãe, dou-lho ou não?

Dei um cravo e dei um lenço,

só não dei o coração;

mas se o rapaz mo pedir

-mãe, dou-lho ou não?

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Eugénio de Andrade, Primeiros Poemas

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Love Theme from Romeo and Juliet,Tchaikovsky(Berliner Philharmoniker,Karajan)