segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Com os Holandeses

Depois, quem já viu o holandês de bicicleta desculpa-lhe todas as suas pachorras. As maravilhas de equilíbrio, as acrobacias de arrepiar, para ele aquilo é como o cavalo para o cossaco. Bebé ou quase centenário, matrona pesada, mocinha grácil, estudante cabeludo, burguês encorpado, mãe de dois filhos, juiz azedo, dama enchapelada, a nação senta-se sobre as duas rodas com um à-vontade e uma leveza que em outras ocasiões tão bem lhe ficaria, mas que então desgraçadamente lhe falta.
Quem não está habituado, eu nunca me habituarei, teme pela vida das anciãs que se esgueiram por entre o trânsito, montadas em veículos que datam da Grande Guerra, parando nos cruzamentos, ou diante de um obstáculo, com um curioso movimento em que o corpo, escorregando do selim e inclinado para trás, serve de contrapeso à velocidade e alivia o atrito dos sapatos que funcionam como travão.
Nenhuma descrição poderá dar ideia da sua virtuosidade, nem da fenomenal ligeireza com que elas se movimentam. E o que essas mulheres carregadas de anos executam no meio da rua, passaria noutras terras por um número de circo.”
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Com os Holandeses, J. Rentes de Carvalho
Ed.Quetzal, pag.145-146
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Move, Charles Mingus

30 comentários:

bettips disse...

Tantíssima saudade...?
Bjinho

Sara disse...

A descrição é primorosa :)).
A prática é boa para a saúde de cada um e para a do planeta, pois claro.
De Rentes de Carvalho só leio o blogue, mas creio que um dia destes me aventurarei pelos livros.
Um abraço de boa semana.

R. disse...

Fabuloso! Quem já teve o privilégio de o testemunhar, sabe que é um retrato tão fiel quanto ao alcance de poucos! Fiquei com vontade de o ler.

Obrigada por esta magnífica partilha que, invariavelmente, faz jus à tua sensibilidade e bom gosto :)

Um forte abraço!

Fernando Samuel disse...

Até parece que estamos lá a ver como é...

Um beijo.

jrd disse...

Excelente descrição.
Também as(os)Danes fazem prodígios de equilibrio, mas apenas nas faixas que lhes estão reservadas, nas quais se impõem aos carros e aos peões.

trepadeira disse...

O belogue do Rentes de Carvalho ainda vou lendo.
A descrição acho muito boa.

Um abraço,
mário

lino disse...

Eu só consigo montar a bicicleta do ginásio, e tem de ser a recuada!
Beijinhos

Clarice disse...

Eu gosto de ver essa gente andando de bicibleta. Depois da infãncia só voltei a desafiá-la uma vez ou duas. Não entendo como essa gente fica tanto tempo rodando por aí. Não tem países baixos eles? Pois os meus ficaram tão doloridos que xinguei a falta de inventarem um assento(ou selim) de acordo, ora, pois!
Tanta modernidade e esse negócio assim desconfortável pra sentar? Não! Não!
Beijos voadores.

Graciete Rietsch disse...

A música saltita como as bicicletas nas ruas planas da Holanda. Gostava de lá ter ido.

Um beijo grande.

Maria disse...

E este "Move" é quase tão rápido quanto as fietsen...

:)))

João Roque disse...

É muita a curiosidade de conhecer este escritor...

Rosa dos Ventos disse...

Tenho mesmo que ler este!
É que não o encontro nas livrarias...lá terei que descer ao vale! :-))
Saudades de Amesterdão, não é?

Abraço

Graça Sampaio disse...

Tão simples que parecem e, no entanto, tão arrogantes...

Bom Natal, minha querida. E que o próximo ano seja o melhor possível!

Beijinhos (para o gato também, claro!)

mfc disse...

Foi lindo de ler (e de sentir) os hábitos bons de um povo simpático!

um sem pedais entre canais disse...

Rentes de Carvalho é um escritor redescoberto, depois de quase 50 anossobre o primeiro livro. Para a Justine é certo que teve uma "cunha" de quem, na fotografia, até passa por holandês, ciclista e carecado, nascido em Torres Novas e com poiso na Graça de Lisboa.
E mais não digo porque já disse demais. Até podia chanar a esta mensagem "não a bicicleta mas o biciclista", por contraponto ao R. de C.

Fá menor disse...

Amiga,

Nesta quadra de Natal, os meus votos de Festas Felizes!
e de um Novo Ano com Paz, Amor, Luz e sempre com a Esperança num mundo melhor.

Bjinhos

GR disse...

Já li este livro, bastante interessante.
A música está (mais uma vez) muito bem escolhida.

BJS,

GR

M. disse...

Por acaso acabei de devorar dois livros deste senhor: "Ernestina" e "La Coca". Está visto que terei agora de espreitar este.
E bem entendo o teu interesse pelo trânsito dos ciclistas...
Beijo

jorge esteves disse...

Não estive, mas não me esqueci de estar. E mesmo que Natal seja quando se quiser (e for possível...), é sempre possível um abraço!
Felicidades!

greentea disse...

não li o livro , mas a descrição é exacta, talqualmente !!

Anónimo disse...

Boa noite, Justine

Feliz Natal

Bjs

Anónimo disse...

Vou ter de "pedir emprestado" que já me andava a curiosidade a roer (entre outras coisas).
Lembras-te da canção italiana, anos 60, "Com 24 mil abraços"?
Pois tal qual o que mando para vós, sem esquecer a pessoa querida na cidade das bicis!
da bettips

tulipa disse...

Expresso
os votos de um Feliz Natal
e um Ano de 2012
repleto de saude e alegria...

Beijinho.

anamar disse...

Menina, por lá , qando ía amiúde "ao país baixo", quase que ía sendo atropelada por á vontade deles e distração minha.

Comeste texto... homenageias o teu rapaz...
Beijos e "hiberna" mas não adormeças...
Beijinho

Teresa Durães disse...

eu já lá estive e chamava-os de serial killers!

Bom Natal!

R. disse...

Um abraço apertado também, Justine! E que as "contas" positivas se generalizem, sim :)

(O melhor dos Natais e dos anos!)

Anónimo disse...

Obrigado por me ter proporcionado esta viagem, Justine.
Feliz Natal

mdsol disse...

Um beijinho, Justine. :)))

Sofá Amarelo disse...

Olá, os maiores desejos de Boas Festas e um beijinho do tamanho de todas estas viagens que fazes e que partilhas connosco! Muito obrigado.

Beijinhosssss,

Alexandre

Duarte disse...

Começo a necessitar de perder-me entre eles...
Tenho uma amiga, aqui em Valência, que é holandesa, mas que há muito que por ali não vai, mas sempre me enche olhos e mente das belezas da sua terra.
Como Tu, daquilo que percebes nas tuas visitas frequentes...
Algum dia vai ser!
Uma grande abraço, amiga del alma.