domingo, 31 de julho de 2011

A velha Casa em Ruínas

Quantos amores, nascidos no silêncio destas paredes, sobreviveram ao passar dos tempos?
Onde estão as crianças que brincaram nestes corredores mais longos que a mais longa estrada?
Que é feito dos sonhos das mulheres e homens que, diante destas janelas escancaradas, decidiram mudar o mundo?

Não há estorvo para a imaginação quando interrogo a velha casa...

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In a sentimental mood, Sonny Rollins and The Modern Jazz Quartet

domingo, 24 de julho de 2011

As irmãs árvores

Esta é a pereira baixota, rústica e mais idosa do jardim. Insiste contudo, com orgulho e generosidade, em oferecer-nos sempre peras enormes e suculentas.
Das macieiras, esta, juvenil e cheia de alegria, exibe-nos tufos de maçãs perfumadas, que este ano coloriram mais cedo do que é costume.
E o marmeleiro, a exibir-nos já vários frutos que irão amadurecer calmamente até Setembro, antecipa-me as tardes doces e serenas de Outono.
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O Verão no fulgor do seu apogeu!
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Solar, Miles Davies

domingo, 17 de julho de 2011

Feitios...

Ter-se-ia zangado com a sua nuvem, que durante horas dançou graciosamente pelo jardim.
Teria apenas desejado um pouco de solidão luminosa - que até os pirilampos têm direito a dizer "quero estar sozinho".

Qualquer que tenha sido a razão, fui encontrá-lo aconchegado ao rebordo da parede da casa, oferecendo-me a sua individualidade e iluminando, por alguns momentos, a minha noite.
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Waltz 2, Jazz Suite No.1, D. Shostakovich

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Guardado está o bocado...

Que cama tão fofa a Donaminha me arranjou! Mesmo à minha medida!

E com o cheirinho da alfazema até durmo mais descontraído!
Donaminha, calma, não grites que me acordas! Tinhas semeado ervilhas-de-cheiro aqui na minha caminha nova?
Mas isto é lá sítio para semeaduras!Daqui é que eu não saio! Faz algum sentido semear flores numa cama que se vê mesmo que foi feita para mim?
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My funny Valentine, Gerry Mulligan Quartet with Chet Baker

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Poema da Morte Aparente

Nos tempos em que acontecia o que está acontecendo agora,
e os homens pasmavam de isso ainda acontecer no tempo deles,
parecia-lhes a vida podre e reles
e suspiravam por viver agora.
A suspirar e a protestar morreram.
E agora, quando se abrem as covas,
encontram-se às vezes os dentes com que rangeram,
tão brancos como se as dentaduras fossem novas.
(António Gedeão, Obra Poética)
Nocturno op.32 nº9, F. Chopin (Maria João Pires)