A amargura de saber uma criança maltratada; a consternação por
haver homens que escravizam homens; o luto por um amigo que morreu; o
desconsolo da solidão; o desgosto por ver a natureza assassinada; a indignação
por haver gente que se aproveita da infelicidade de todos para seu único
proveito; a tristeza por viver tempos em ruína!
Se eu fosse ainda criança, agarrava na toalha de praia bem
aberta por cima da cabeça e desatava a correr pelo areal, transformada
numa ave à procura do vento propício para levantar voo.
Recordações de tempos em que a liberdade não se questionava...
Hoje acordei com o cheiro a pão quente. Um daqueles cheiros
primordiais, telúricos, enriquecedores. O cheiro permaneceu dentro de mim, e dentro
de mim se esboçou um sorriso: sei que é dia de R fazer pão no seu antiquado
forno de lenha, sei que, como de costume, me será oferecido um desses pães
ainda a deitar fumo, e que a oferta virá embrulhada num paninho de algodão
branco, puído pelo tempo, mas onde ainda se consegue ler a inicial do nome de
sua mãe, pertença de enxoval fora de moda.