domingo, 27 de maio de 2012

O valor das coisas únicas





Os campos estão vermelhos de tantas papoilas. 
 Esta porém decidiu fugir à multidão e nascer junto ao muro do jardim.
 Na pedra, como só fazem as papoilas corajosas.
É a minha papoila. Única. Ímpar.
Como uma carícia ou um gesto solidário!

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Serenade No.3, andante, Mozart (Munich Symphony Orchestra)




domingo, 20 de maio de 2012

Tarefas hercúleas

- Olha, Donaminha, acho que, se eu fizer força do outro lado, sou capaz de pôr a árvore direita!
- Que tolice, Mounty, não digas disparates...

-Viste como consegui? Eu bem te dizia que era capaz! Donaminha, foi muito mais fácil do que tentar endireitar este nosso mundo...
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While my lady sleeps, John Coltrane

domingo, 13 de maio de 2012

Levantar voo

Numa janela de rosto vincado pelo tempo,
a ave aguarda.
Na postura, uma certeza calma e exacta.


Pode a ave (re)pousar uns momentos numa janela a cheirar a abandono. Chegará contudo o momento de levantar voo, num frémito de liberdade, rumo a lugares de descoberta.
Nós como as aves?

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Something I dreamed last night, Miles Davies

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Adeus, João

Uma paragem. Um silêncio necessário. A memória a latejar. O abraço final. A flor de despedida pelo amigo que partiu.
Adeus, João.

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Nocturno Op.32, nr.9,(Il lamento e la consolazione),Chopin, MªJoão Pires



terça-feira, 1 de maio de 2012

MAIO




MAIO
Um dia mereceremos Maio.
Traremos flores dentro da pele
E o olhar luminoso de quem ama.
Um dia acordarei e será Maio,
Sem palavras, sem gritos, sem fronteiras,
Sem medo de ser Maio, sem medo
De ser.
Um dia mereceremos os maios,
As giestas, o verde das águas
As gotas de orvalho e o cristal dos nervos.
Um dia acordarei e será Maio,
Cheiro a terra, pétala de carne,
Rumor de um horizonte a descobrir
Em mim.
Um dia acordaremos e seremos Maio.
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( Maio, in O Despertar dos verbos, Mário Domingos)