sexta-feira, 30 de julho de 2010

Visita da casa


Visitou-nos duas noites, vinda do jardim onde guardamos imaginações.
Olhou-nos com olhos semelhantes a horizontes, onde se lia um traço de solidão. Ouviu a nossa saudação como se não soubesse da ruptura entre natureza e cultura, e depois, suavemente, partiu, com um ruído manso de asas.
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Witchcraft, Bill Evans Trio


sexta-feira, 23 de julho de 2010

Jardim das Delícias






Visitei-o, este jardim onírico e lúdico, por recomendação amiga e na companhia de amigos. Em boa hora. Dentro de mim, a saltitar, andou na visita a criança que fui e que ainda se deixa surpreender.
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Le Carnaval des Animaux:les fossiles, C.Saint-Saens

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Horizontes largos

O meu horizonte começa onde terminam os esforços do homem - diz a ave, de costas, para a nuvem mais próxima.
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Waltz 2, Jazz Suite No.2, Shostakovitch

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Tardes de Verão


Ah o que eu gosto destas tardes de verão, das sestas até ao anoitecer, dos ratinhos-bebé, dos pássaros distraídos, das noites de lua cheia...
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My funny Valentine, Gerry Mulligan Quartet

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Enquanto

Enquanto

Enquanto houver um homem caído de bruços no passeio
E um sargento que lhe volta o corpo com a ponta do pé
Para ver como é;
Enquanto o sangue gorgolejar das artérias abertas
E correr pelos interstícios das pedras,
Pressuroso e vivo como vermelhas minhocas despertas;
Enquanto as crianças de olhos lívidos e redondos como luas,
Órfãs de pais e de mães,
Andarem acossadas pelas ruas
Como matilhas de cães;
Enquanto as aves tiverem de interromper o seu canto
Com o coraçãozinho débil a saltar-lhes do peito fremente,
Num silêncio de espanto
Rasgado pelo grito da sereia estridente;
Enquanto o grande pássaro de fogo e alumínio
Cobrir o mundo com a sombra escaldante das suas asas
Amassando na mesma lama de extermínio
Os ossos dos homens e as traves das suas casas;
Enquanto tudo isso acontecer, e o mais que se não diz por ser verdade,
Enquanto for preciso lutar até ao desespero da agonia,
O poeta escreverá com alcatrão nos muros da cidade:

ABAIXO O MISTÉRIO DA POESIA.
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António Gedeão, Obra Poética
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Nocturno Nº20 "Reminiscence",Chopin (MªJoão Pires)