sábado, 28 de junho de 2008

Vindas do Mar





São coisas vindas do mar.
Ou doutra estrela.
Seixos, ouriços, astros
pequenos e vagabundos, sem bússola,
sem norte, os passos incertos. Pouco
se demoram. Como a felicidade.
Seguem outra canção, outra bandeira.
Tudo isto os olhos traziam.
Do mar. Ou doutra idade.
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(Eugénio de Andrade, in Os Sulcos da Sede)
(fotografias graciosamente cedidas por MF)
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Vou até ao mar, procurar "astros pequenos e vagabundos".
Demorar-me-ei pouco, "como a felicidade",mas
tentarei trazer nos olhos algumas impossibilidades.
Deixo-vos entretanto na melhor companhia. Até já.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Ressaca de S. João

Ai Donaminha, que grande noite a de ontem! Estou mesmo feito num oito...

Era o povo todo na rua, apesar da chuvinha chata, e diverti-me à grande! Mas hoje não posso com uma gata pelo rabo...
Trouxe-te este alho-porro, ofereço-to como se fosse uma flor!
E não me dês comida , Donaminha. Hoje só vai uma ervazita, para contrabalançar os excessos da noite passada. Até pró ano, S. João!

sábado, 21 de junho de 2008

A horta do vizinho...

Mete gosto olhar ali para a horta do vizinho, tão viçosa, tão bonita aos carreirinhos verde-alface, verde-couve, verde-milho!

Fico a pensar se ter uma horta assim, tratada e alegre, dará muito trabalho...(Será que a Donaminha está a ficar velha para estas tarefas? Nem me atrevo a perguntar-lhe! )

Mas até custa olhar aqui para baixo, para o ar desolado que a nossa horta tem este ano. Costumava ser tão fresquinha e era tão cheiroso dormir a sesta no meio da rúcula e das acelgas e dos coentros. Este ano só vejo ervas, pedras, algumas papoilas e...e......bem me parecia! e antipáticas toupeiras que furam tudo e não se deixam apanhar. Não gosto de toupeiras, os ratos são bem mais amigáveis...
Faz pena, Donaminha, não termos uma horta verde e fresca como a do vizinho, aos carreirinhos a lembrar uma pintura... e dava-me tanto jeito para as sestas!
Para o ano? Já estou mais animado! E também vais semear salsa e tomilho, para as minhas sestas serem ainda mais perfumadas? Boa! Prometo que vou ajudar!

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Belmonte intemporal

Uma gata hospitaleira dá-nos as boas-vindas, e numa vénia graciosa e sedutora convida-nos à visita

E lá fomos, em deambulações sem mapas pelas ruas estreitas de inclinação severa, respirando um tempo parado e circular,

admirando casas ora despojadas e sombrias

ora enfeitadas com pinceladas de cor e artefactos esquecidos.

Por fim, o início de tudo: a escultura elegante do castelo românico, volumetria de arcos e sombras que, desatando os nós da nossa memória, nos transporta a tempos não familiares.
Belmonte intemporal, lugar de segredos e de clandestinidades.

sábado, 14 de junho de 2008

Viagem ao fundo do tempo


Eles, os nossos antepassados, andaram por estes vales e por estes montes em deambulações e vivências , há vinte mil anos.



Não sei o que são vinte mil anos. Sei apenas que andaram por aqui, atribuindo às pedras sentimentos e sonhos, legando-nos arte. As gravuras e a vertigem da nossa imaginação contam-nos o resto. Que é quase tudo.

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Le déjeuner sur l'herbe

Donaminha, então sempre é hoje que vamos fazer o tão prometido piquenique? Até já me estou a lamber!

Tão cheirosa essa comida! Faz crescer água na boca! É especial para piqueniques? Ah, foi a minha fã Desnorteada que me trouxe de presente. Quero-a cá mais vezes, está bem?
E agora deixa-me sossegado, donaminha, que me está cá a dar uma soneira...ronron,ronron,ron...

(foto central e comida gentilmente cedidas por Desnorteada)

sábado, 7 de junho de 2008

Inexistência de muros




A casa, rés ao chão, permite-nos o contacto libertador e primordial com a terra e os bichos.
Mas também tem asas de andorinha em convites insondáveis, e nuvens de pirilampos que, em crepúsculos doces, nos insinuam outros horizontes.
E tem sobretudo a permanência dos amigos que, nos seus voos de cor e ondas de talento nos reinventam a casa, eternizando-a num tempo harmonioso. E derrubando muros.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Aos Jacarandás de Lisboa


São eles que anunciam o verão.
Não sei doutra glória, doutro
paraíso: à sua entrada os jacarandás
estão em flor, um de cada lado.
E um sorriso, tranquila morada,
à minha espera.
O espaço a toda a roda
multiplica os seus espelhos, abre
varandas para o mar.
É como nos sonhos mais pueris:
posso voar quase rente
às núvens altas - irmão dos pássaros -,
perder-me no ar
...
...
(Eugénio de Andrade in Os sulcos da sede)