Oh Lisboa como eu gostava de ser o terceiro corvo do teu emblema… estar implícita na tua bandeira negra e branca como tinta e papel como escrita e espaço! Ser teu desenho tua nova lenda invenção deste século que já não inventa e se interroga: donde vieram estes corvos? Como tu, Vicente, eu também não sou de cá não sou daqui não pertenço a esta terra e talvez nem sequer a este mundo… Porém estou aqui nesta dolorosa praia lusitana cheia de um tumulto inútil que enegrece as tuas areias e polui o ventre do rio que os golfinhos há muito desertaram E olhando as nuvens dedilhadas pelo vento sentindo a terna dor do teu sentir sentido peço-te, Lisboa: surge de novo bela reinventa a santidade perdida do teu emblema
. Ana Hatherly, in Em Lisboa sobre o mar, Poesia 2001-2010