Ao fim de três encontros já nos tratamos por tu, a cidade e eu. Já me oriento sem mapas, já ouso sozinha caminhadas de descoberta e surpresa por alguns bairros da cidade. E ela, a cidade, revela-me a pouco e pouco a sua intimidade, os seus segredos, o seu quotidiano.
Primeiro revisito o Catete, bairro vizinho e histórico, fremente de gente e comércio de rua num bulício alegre, e onde já me são familiares os jovens do sebo e os funcionários do velho restaurante "Lamas". A novidade desta vez foi a roda de choro no Largo de São Salvador, ocupado pela Feira de Artesanato aos domingos, e onde convivem com palavras, música e vários tipos de bebidas todas as gerações da vizinhança. Apetece ficar o dia inteiro! As fachadas dos edifícios antigos, de rosto enrugado mas orgulhosos do seu passado, são um dos meus fascínios nesta cidade. Perco-me pela Lapa, no Centro ou em Santa Tereza, enamorada e tecendo na minha imaginação fios de histórias e de pessoas que um dia habitaram estas casas. Quantos romances a escrever!
Uma tarde meti-me no metrô e apenas acompanhada do último livro de Luiz Alfredo Garcia-Roza, que me ensinou o Rio ainda antes da minha primeira visita, segui sorrateiramente o Delegado Espinosa desde a sua delegacia em Copacabana até ao Bairro Peixoto, largo tranquilo e quase provinciano onde ele mora, sem esquecer a passagem pelo árabe da Galeria Menescal, onde ele sempre compra alguns quibes para o jantar. Que exultante é esta miscigenação entre realidade e ficção!
É verdade que a mão amiga e sábia dos primos me mostrou caminhos, me desbravou recantos.
É certo que a cidade, hospitaleira, se revelou sem reservas.
É inegável que eu, por amá-la, cada vez a conheço melhor.
Assim, para a próxima vez, vai ser um encontro de velhas amigas! Me aguarde, Rio.
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Deve ser amor(Baden Powel)