sábado, 30 de dezembro de 2017


 
Receita de Ano Novo
 
Carlos Drummond de Andrade 
 
Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-la na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
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Lo que vendrá, Astor Piazzolla

 


sábado, 23 de dezembro de 2017

Boas Festas!

 
Boas Festas para todos os amigos que por aqui passarem ...
e para os outros também!
 
 
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 Maria João Pires, F.Chopin, Nocturnos
 

 

sábado, 16 de dezembro de 2017

O Porto, Serralves e tudo

 
 Ir ao Porto é sempre uma festa!


 
 Ir a Serralves é sempre indispensável!




 
E com uma exposição como a de Jorge Pinheiro é quase um dever!
E um triplo prazer!
 

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Body and Soul, John Coltrane
 
  
 

domingo, 10 de dezembro de 2017

As Resistentes


Das três folhas que restam ainda no diospireiro,
duas resistem com tenacidade ao vento e à chuva.


A outra acompanha com atenção o único fruto deste ano,
até que ele esteja pronto para ser colhido.
 
A natureza em solidariedade!

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My old flame, Gerry Mulligan Quartet with Chet Baker


domingo, 3 de dezembro de 2017

O nome do cão



O cão tinha um nome
Por que o chamávamos
E por que respondia.
 
 
Mas qual seria
O seu nome
Só o cão obscuramente sabia.
 
 
 Olhava-nos com uns olhos que havia
Nos seus olhos
Mas não se via o que ele via,
 
Nem se nos via e nos reconhecia
De algum modo essencial
Que nos escapava
 
Ou se via o que de nós passava
E não o que permanecia,
O mistério que nos esclarecia.
 
 Onde nós não alcançávamos
Dentro de nós
O cão ia.
 
E aí adormecia
Dum sono sem remorsos
E sem melancolia.
 
Então sonhava
O sonho sólido em que existia.
E não compreendia.
 
Um dia chamámos pelo cão e ele não estava
Onde sempre estivera:
Na sua exclusiva vida.
 
Alguém o chamara por outro nome,
Um absoluto nome,
De muito longe.
 
E o cão partira
Ao encontro desse nome
Como chegara: só.
 
E a mãe enterrou-o
Sob a buganvília
Dizendo: “É a vida…”
 
 Manuel António Pina,“O nome do cão”,
In “Nenhuma palavra
E nenhuma lembrança”,
Assírio & Alvim, 1999

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Parfum de gitane, Anouhar Brahem


domingo, 26 de novembro de 2017

Luz entretecida

 
A tecedeira, um mostrengo;
o trabalho, uma obra d'arte!
 
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Fuga y misterio, Astor Piazzolla
 



domingo, 19 de novembro de 2017

Hesitações


- Saio? Vou ali à frente, a casa da vizinha?

 
 - Não, é melhor não ir!

 
 - É muito perigosa esta estrada, não é DonaMinha?

 
- E o ruído dos carros assusta-me tanto...
Já decidi, fico aqui por casa!
 
 
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In your own sweet way, Miles Davis
 
 
 
 


domingo, 12 de novembro de 2017

O Terceiro Corvo








O Terceiro Corvo


Oh Lisboa
como eu gostava de ser
o terceiro corvo do teu emblema…
estar implícita na tua bandeira
negra e branca
como tinta e papel
como escrita e espaço!
Ser teu desenho
tua nova lenda
invenção deste século
que já não inventa
e se interroga:
donde vieram estes corvos?
Como tu, Vicente,
eu também não sou de cá
não sou daqui
não pertenço a esta terra
e talvez nem sequer a este mundo…
Porém estou aqui
nesta dolorosa praia lusitana
cheia de um tumulto inútil
que enegrece as tuas areias
e polui o ventre do rio
que os golfinhos há muito desertaram
E olhando as nuvens dedilhadas pelo vento
sentindo a terna dor do teu sentir sentido
peço-te, Lisboa:
surge de novo bela
reinventa
a santidade perdida do teu emblema
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Ana Hatherly, in Em Lisboa sobre o mar, Poesia 2001-2010

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Verdes Anos, Carlos Paredes





terça-feira, 7 de novembro de 2017

As perdas


DonaMinha, morreu-me uma amiga, uma velha e boa amiga.
Estou muito triste, mais sozinho e tão apreensivo...
Ajudas-me, DonaMinha?

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Souvenance, Anouar Brahem



sábado, 4 de novembro de 2017

Chuva, quase a mais desejada!





A natureza toda e os homens, mesmo os insanos , agradecem!
 
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 Blue in green, John Coltrane/Miles Davis

 


domingo, 29 de outubro de 2017

Outonos


 
 

O Outono cá em casa


 
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Four Seasons - Autumn, Vivaldi

 


domingo, 22 de outubro de 2017

Nostalgias



Recordando caçadas...
 
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Comme une absence, Anouar Brahem

 


domingo, 15 de outubro de 2017

Sobrevivência


De onde menos se espera...
 
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These foolish things, Charles Mingus
 
 
 
 
 


domingo, 8 de outubro de 2017

Gato escondido...

 
Não gosto nada deste vizinho:
é grande, é novo, é intrometido!
 
 
Atiro-me a ele? Fico aqui escondido?
Que dilema...
 
 
Ah, o valentão foi-se embora com medo da DonaMinha!
Ora toma! 
(e eu aprendi que gato escondido...vale por dois!) 
 
 
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Tenderly, Bill Evans
 
 

 
 
 


domingo, 1 de outubro de 2017

O Tempo


Ontem
 

Hoje
 
 
Amanhã
 
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Blue in green, John Coltrane/Miles Davis
 


domingo, 24 de setembro de 2017

Animal e vegetal

 
Tronco prolongamento de tronco.
Animal e vegetal, partes de um todo.
 
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Sweet and lovely, Thelonius Monk/John Coltrane
 


domingo, 17 de setembro de 2017

Nada é perfeito


Bem-me-quer com cicatriz. Nem por isso menos belo!
 
 
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domingo, 10 de setembro de 2017

Haja saúde!

 
O peixe faz bem saúde??????????????????
O peixe faz bem! Haja saúde!
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These foolish things, Charles Mingus
 
  

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Uma força da natureza

 
DonaMinha, olha como eu estou ainda em forma!
Até já consegui inclinar um pouco o pinheiro..
Vê lá se agora deixas de me chamar velhote.
 
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Sweet and lovely, Thelonius Monk/John Coltrane
 
 
 


 

domingo, 30 de julho de 2017

O meu querido mês de AGOSTO



Bom descanso e até Setembro
 
 
 
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domingo, 23 de julho de 2017

Tempo de Verão




Tempo de verão, tempo de migrações...
( ou o instinto gregário!)
 

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Summertime, Charly Parker






domingo, 16 de julho de 2017

A cabra cega

 
Responde à voz da dona, cuida do seu filhote sem enganos.
 Vê mais que muito boa gente!
 
 
 
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domingo, 9 de julho de 2017

Campo de Trigo


Não é um Millet antes de chegarem as ceifeiras
e, depois, as respigadoras.
 É um campo de trigo aqui mesmo ao lado.
Viva o verão e o pão!
 
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domingo, 2 de julho de 2017

As Florestas e os Ventos

 
As Mãos e os Ventos
 
Das palavras amordaçadas em nossos lábios roxos
nascerão ventos,
nascerão ventos.
 
E nascerão mãos
para conduzir os ventos.
 
(in As Mãos e os Ventos, Papiniano Carlos)
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terça-feira, 27 de junho de 2017

É A DOER

 
 
É a doer, tem de ser a doer, morreram 64, ardidos, queimados, a fugir, sufocados em chaminés, encarcerados em carros sobre um talude onde até as jantes de liga leve derreteram( mas a quantas centenas de graus derrete a liga leve?), 64 até agora e provavelmente serão mais, há feridos graves e ainda andam a bater às portas a perguntar se falta alguém, 64 mortos têm de fazer isto andar, tem de ser a doer, não precisamos de chorar mas precisamos do choque, ...
...limpe as lágrimas mas abra os olhos, veja o que há, reveja o que houve, choque-se uma semana depois, muitas semanas depois, choque-se enquanto for preciso, daqui a nada já ninguém bate à porta daquela gente e os esquecidos voltam a ser esquecidos, o Estado volta a falhar ao país, aos mais pobres, aos isolados e esquecidos, porque a vida continua, os vivos continuam, mas se tudo continua como sempre continuou então 64 mortos serão a lápide arrefecida e não vamos lá, não vamos a lado nenhum, ficamos sitiados até à próxima, num até sempre para eles que é um até nunca para nós, é por isso que tem de ser a doer, a doer, a doer, para termos a dignidade de nos indignarmos, para forçar, exigir, ver fazer, ver viver, lá na tragédia que o tempo fará parecer longe, como se não tivesse sido aqui, como se não tivesse sido connosco, como se nós não fôssemos nós.
 
(excerto do artigo de Pedro Santos Guerreiro "É a Doer", primeiro caderno do Expresso de 24/06/2017, pag. 02)
 
 
(sublinhados meus)
 
(indignada, de olhos enxutos mas abertos)
 


domingo, 25 de junho de 2017

Frutos da época




 
São feias, são imperfeitas, mas são as melhores nêsperas do mundo!
 
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domingo, 18 de junho de 2017

Animal e vegetal



Explosão de cor com gafanhotos pousados ...
 
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domingo, 11 de junho de 2017

Eugénio e os gatos

 
 Em estilo amável

Chega ao fim o verão, resta-me agora
a poesia a caminho da prosa.
pelo lado matinal
um gato pé ante pé aproxima-se
de um pardal saltitando
entre as folhas amarelas. "É o meu coração,
a luz é o meu coração", diz ele, e salta,
voa na tarde. O mar
recua, uma criança vem vindo pelo molhe,
canta canta por cantar.

Um velho traz o céu
azul pela mão, olha de soslaio
os rapazes ao passar. Afável,
distraído, simples de espírito,
Como deus. E como eu.

(Eugénio de Andrade in Os Dóceis Animais)

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