sábado, 31 de maio de 2008

Em defesa do território

Doooonaaaa! Socooooorroo! Devo estar com visões! Cães no meu blog? E logo dois? E vadios?

E se têm pulgas? Tenho de encontrar as pulgas! Não posso receber as fãs aqui com o blog infestado. Dona, vou lá para fora, isto aqui tem de ser desinfectado...

Uff, aqui já se respira, lá dentro até posso apanhar uma doença! Ainda se fossem cães de raça! Não me chames ciumento, nem elitista... apenas gosto de manter o meu território com bom ar.

"Gato não sofre, existe"

( pedi emprestado este verso ao António Osório, eu sou um gato culto!)

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Retrato de Família

Imagem sedutora de protecção e ternura.
Ou de como animais vadios podem, num movimento instintivo e primordial, transmudarem-se em representação estética, em coreografia afável e nobre.

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Árvore de bem-me-queres


São da vizinha, mas não importa. Os vizinhos aqui na aldeia, além de nos deixarem à porta, anonimamente, ofertas de frutos, legumes e outros mimos, gostam de nos emprestar a beleza das suas flores.
Bem-me-quer, bem-me-quer, muito, muito, muito...


sexta-feira, 23 de maio de 2008

De todos os canais,este


De todos os canais, este

Talvez seja este o mais belo. Depende apenas do meu olhar.
E eu vejo, porque quero ver, na MANHÃ em começo lento, a SILHUETA de um barco rompendo silenciosamente as águas, trazendo até mim a VULNERABILIDADE de uma figura masculina franzina e alta, que o vento, bom CONSELHEIRO, obrigou a embrulhar num agasalho quente e que, antes de se AFASTAR da minha visão, me ofereceu um sorriso primaveril e puro.

Vejo ainda sobre o canal um dossel de árvores, renda de ramos vestidos de folhas apenas nascidas, que se entrelaçam numa leve e ineficaz OBSTRUÇÃO ao reflexo do sol na superfície das águas. E que aí se redesenham, numa TAPEÇARIA insegura e subtil.

E vejo por fim, encostada à margem, uma ave-CRIANÇA inexperiente e desconhecedora, que a MORTE aprisionou ao tentar rever-se no espelho das águas. Viva parece ter ficado apenas uma PENA, coberta de pequenos diamantes de ORVALHO cintilantes ao sol, sinal único de que a ave ainda há pouco voava.

De todos os canais, este: montra EXPONENTE do discreto jardim das minhas emoções.
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(Jogo das 12 palavras, em http://eremiterioblogspot.blogspot.com)

terça-feira, 20 de maio de 2008

Interim poético

Breakfast in Maspalomas
Das coisas que menos esperava
num hotel de cinco estrelas
era encontrar um gato
no meu prato de torradas.
Como num dos poemas últimos de Montale,
enquanto o chá arrefecia,
foi-se afastando pelo muro do terraço
em leves e femininos passos de dança,
como o faria Nureiev se tivesse
tomado comigo o pequeno almoço.
(Eugénio de Andrade, Rente ao Dizer)

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Beleza e efemeridade

Nasceu o botão, difuso


Explodiu a flor, insolente. Amanhã, sem ruído, fenecerá.
Beleza e Efemeridade. Vida e Morte.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Prometido é devido

-Vamos lá acertar contas: dormi muito bem esta noite, o fiambre era de boa qualidade, mas não te esqueças que nem tudo está cumprido, dona
- Hummm, claro, claro.

-Não te faças distraída! Deixei passar aquele post lamechas dos lepidópteros, porque eles me divertem nas suas tentativas canhestras de fugir de mim, os tolos. Também, com aquele nome...
Mas o prometido é devido, dona.
- É verdade.- Assim sendo, vou ficar por aqui três ou quatro dias, só eu e eu apenas, feliz e caprichoso como um gato que se preze, orgulhosamente exposto à admiração do meu club de fãs. Até me cansar...
-Egocêntrico! Mimado!
-Apenas gato! Miau, miau, miau

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Jardim onírico




Perpassam rente ao meu rosto suaves sopros coloridos, numa dança feérica e lenta, amigável.
Posso imaginar-me num local longínquo, crepuscular e lírico. Existe? Sonho-o apenas?

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Troca por troca

-Não, não quero ouvir falar mais nela!
-Mas não porquê?
-Porque não...
-Isso não é resposta, quero um motivo plausível
-Porque...tu gostas mais dela que de mim...
-Disparate, só quero partilhar com amigos o que sinto por ela.
-E eu? Fico esquecido, preterido dias e dias!
-Não sejas ciumento, o teu lugar na minha vida não será nunca ocupado senão por ti
-Verdade? Continuas a gostar de mim?
-Sempre, como sempre!
-Então publica lá a droga das fotos da cidade e dos gatos pindéricos que por lá encontraste! Mas...







...mas esta noite durmo na vossa cama a noite inteira, está bem? E depois quero um post só comigo, e também quero dois bocadinhos de fiambre nham.nham. Ronronronronron.

domingo, 4 de maio de 2008

As vitrinas de Amsterdam


Sei que há diferentes olhares sobre a mesma verdade. É até provável que haja múltiplas verdades. Neste caso, olhando para dentro, vejo os gatos da cidade, bem tratados, caseiros e levemente aborrecidos. Mas sempre majestosos.
Olhando de dentro para fora, pelo reflexo, vejo a cidade das fachadas irregulares, a renovar-se nas árvores ainda apenas meio-vestidas de verde. Mas sempre sedutora.

Estas são as vitrinas de Amsterdam que me humanizam e enternecem. Ou como um olhar diverso pode desviar conceitos.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

O verso e o reverso


Aquietadas as saudades, parti da cidade dos canais deixando lá aquele que na realidade trago sempre comigo.
E regresso ao abraço das árvores familiares e à ternura explícita do meu gato, que vem com urgência dar-me as boas-vindas, enfeitado de túlipas do jardim. Como que a dizer que os afectos são redondos e que o amor é generoso. Eu aceito, apaziguada.