domingo, 24 de maio de 2020

De barro somos

 
 
 
"Conforme acreditavam os antigos Sumérios, o mundo era terra entre dois rios e também entre dois céus.
No céu de cima vivam os deuses que mandavam. No céu de baixo, os deuses que trabalhavam.
E assim foi, até os deuses de baixo se fartarem de viver para trabalhar e terem feito a primeira greve da história universal.
Espalhou-se o pânico.
Para não morrerem de fome, os deuses de cima amassaram em barro as mulheres e os homens e puseram-nos a trabalhar para eles.
As mulheres e os homens nasceram das margens dos rios Tigre e Eufrates.
Desse barro foram feitos, também, os livros que o contam.
Segundo dizem esses livros, morrer significa regressar ao barro."

( De Barro Somos, in Espelhos, Eduardo Galeano, Ed. Antígona, pag. 19)

. Nocturno Nr.20, F Chopin (Wladyslaw Szpilman)



8 comentários:

Graça Sampaio disse...

Belo texto! Nunca li nada dele... Shame...

Luis Filipe Gomes disse...

"Conheço-o" de o ouvir nos vídeos. Não tenho nenhum livro dele. Uma falha a colmatar.

Sérgio Ribeiro disse...

Uma surpresa! Não a referência a Eduardo Galeano, mas a ligação inesperada e quase comovente ao nocturno de Chopin. Este post juntou o que, em separado, pareceria inajustável. Foi bom (e pungente) de ouviler.

Teresa Durães disse...

Lindíssimo e copiei para recordar

Rosa dos Ventos disse...

Nunca li nada dele!
Somos mesmo de barro, por isso frágeis!
Gostei!

Abraço

Mar Arável disse...

Frágeis como o cristal
mais fortes que o seu brilho
Bj

bettips disse...

Já li alguns livros dele, às tantas foste tu que mos emprestaste. Gosto muito da sua filosofia chã.
O barro, a argila, o pó.
As flores dos muros. As minhas duraram 3 dias, papoilas só vê-las e acenar.
Tudo tão efémero que o amor nos aperta os olhos, numa fresta quase húmida de lágrimas.
Bjinho

bettips disse...

Ah... e quando vi "da guerra" ... das guerras
lembrei-me logo de saber desde sempre que "o paraíso ficava nessa terra de leite e mel" entre o Tigre e o Eufrates.
B