A memória é sempre consciência de perda
(recordo o que já não tenho e o que já não é);
consciência, portanto, de consumpção do tempo que corresponde à minha vida e,
por isso mesmo,
consciência de ir em direcção à morte.
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(António Gamoneda, in posfácio de Oração Fria, Assírio & Alvim, trad. João Moita)
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(Foto de PG.)
.Trincheras/Decadence, Alberto Iglesias, London Session Orchestra
15 comentários:
Pelos cânones da nossa cultura até parece sem alento.
De forma mais lata a consciência da morte, ou pelo menos da impermanência existe nas civilizações mais cultas, não me refiro a esta nossa civilização mecanicista em que vivemos, onde tudo tem de ter um valor padronizado institucional.
Quero dizer, o processo de envelhecimento está tão presente num recém nascido como num idoso veterano. No bébé o envelhecimento progride até de forma mais veloz. Num e noutro a memória é limitada. No pequeno a narrativa ainda não foi construída, no maior a narrativa foi condensada e depurada ao essencial.
A memória é sempre uma narrativa, perder ou ganhar é só uma forma de atributo para o que não está presente ou sofreu transformação.
Lembro-me desses maravilhosos narradores, mulheres e homens que por África contavam histórias do mundo e enunciavam as linhagens sucessivas dos seus antepassados. Não me pareceu que no seu caso houvesse alguma consciência de perda no sentido semântico que atribuímos a essa palavra, pelo contrário, a sua função era precisamente de renovadamente ganhar a memória dos acontecimentos do seu tempo e dos antepassados.
Muito perturbador, mesmo!
Mas... ai de nós se não tivéssemos memória...
Beijinhos e ronrons.
A memória aproxima-nos de uma ideia que queremos esquecer que existe, mas que há-de chegar.
Abraço
Entramos preocupados...saímos em reflexão. Tempos e compassos, onde a memória também é companheira.
Abraço!
É evidente, quanto mais se vive maior é a acumulação de feitos, uns perdas outros ganâncias. O que não me deixa concordar com o autor.
Vida e memoria são paralelas, caminham juntas.
É a imagem do pessimista, e aqui não serve que o pessimista é um otimista inteligente. Fácil, porque tenho de convencer-me de que é o caminho para tal fim? Que ou quem marca o limite?
Um gran abraço, querida amiga
Todos os dias
construímos memórias
É um ponto de vista, não digo negativo, mas que pode ser como foi afirmado aí em cima, perturbador.
A memória para mim, é cada vez mais uma fonte das coisas boas que a vida me tem dado.
Prefiro mesmo recordar do que sonhar...
Olhar o lado lúdico, como ali acima diz Luis Filipe Gomes, dos contadores das nossas vidas passadas, testemunhos. Tenta-se.
Seria - segundo o meu sentimento que é idêntico ao de A. Gamomeda - melhor reviver, cada estação, como os pequenos pontos-promessa das glicínias, em breve a crescer nos seus milhares de olhos em cacho. Fundir-nos na Natureza.
Bjinho
Gamoneda, claro, o da poesia recta e fria contra o tempo obscurantista que viveu.
Cara Justine, fico com as imagens, que me perturbam menos. Pensar nem sempre é um bom negócio.
Há dias em que a memória ou a falta dela me deixam feliz e assim prefiro do que procurar o plug da tomada.
Me apaixona tentar saber como funciona o cérebro, mas em meu proveito. Principalmente agora que descobriram que quanto mais acumulamos, mais difícil será lembrar em tempos de alta quilometragem. Quanto mais sábios maior o risco de falsa demência. arre!!!!
Beijão.
eu procuro viver e nao pensar em viver
Jinhos
Paula
Cada dia que passa é um passo em frente.
Beijo.
cada dia se vive de uma certa forma, há dias para esquecer, há dias para lembrar e pelo meio aparecem centenas de coisas , algumas preocupantes ...
beijos
Era muito importante que os lideres europeus tivessem memória mas, pelo que vou vendo por aí, parece que a perderam em parte incerta. Para nossa desgraça!
A memória ainda não me atraiçoa...
Bjs
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