O Terceiro Corvo
Oh Lisboa
como eu gostava de ser
o terceiro corvo do teu emblema…
estar implícita na tua bandeira
negra e branca
como tinta e papel
como escrita e espaço!
Ser teu desenho
tua nova lenda
invenção deste século
que já não inventa
e se interroga:
donde vieram estes corvos?
Como tu, Vicente,
eu também não sou de cá
não sou daqui
não pertenço a esta terra
e talvez nem sequer a este mundo…
Porém estou aqui
nesta dolorosa praia lusitana
cheia de um tumulto inútil
que enegrece as tuas areias
e polui o ventre do rio
que os golfinhos há muito desertaram
E olhando as nuvens dedilhadas pelo vento
sentindo a terna dor do teu sentir sentido
peço-te, Lisboa:
surge de novo bela
reinventa
a santidade perdida do teu emblema
.
Ana Hatherly, in Em Lisboa sobre o mar, Poesia 2001-2010
Ana Hatherly, in Em Lisboa sobre o mar, Poesia 2001-2010
.
Verdes Anos, Carlos Paredes
5 comentários:
Memórias vivas
Bj
Viste o corvo na exposição?
Lindissimo!
A beleza das coisas.
Sempre sobram verdes, os anos, escutando-o!...
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