domingo, 18 de outubro de 2020

Quantos seremos?


Quantos seremos?

Não sei quantos seremos, mas que importa?!
Um só que fosse, e já valia a pena.
Aqui, no mundo, alguém que se condena
A não ser conivente
Na farsa do presente
Posta em cena!

Não podemos mudar a hora da chegada,
Nem talvez a mais certa,
A da partida.
Mas podemos fazer a descoberta
Do que presta
E não presta
Nesta vida.

E o que não presta é isto, esta mentira
Quotidiana.
Esta comédia desumana
E triste,
Que cobre de soturna maldição
A própria indignação
Que lhe resiste.

Miguel Torga

6 comentários:

Luis Filipe Gomes disse...

Aromas de Torga.

bettips disse...

Pois, por um já valeria a pena.
Tenho sempre dificuldade em classificar (em mim) este Homem grande da escrita portuguesa. Como certo estava e tão difícil era, em convivência terrena.
Há caminhos que descobri, por ele, há décadas.
Sabes que na sua terra lhe fui visitar o túmulo? Apenas curiosidade e respeito.
Bjs

Rosa dos Ventos disse...

Miguel Torga além de nos deliciar faz-nos pensar!

Abraço

Majo Dutra disse...

Não conhecia este poema.
Gostei de o ler, MJ.
~~~

M. disse...

Pois... escolha de um poema bem adequado à época que vivemos.

Acordai! disse...

Torga não precisa de música, embora a música seja sempre precisa, sobretudo a que é sempre tão escolhida!