A árvore é tudo o que falta no céu
quando a contemplo.
Aconteceu há muito no recato
do meu livro de espantos e ternuras.
Tudo o que eu fizer, árvore,
será com a caligrafia dos teus ramos
bebedores de azul, da altíssima vibração
do azul na névoa das manhãs.
Ninguém conhece o teu perfil
quando os meus olhos não te alcançam
ou te desvias do meu corpo.
Os teus braços dizem berço e abraço
de outros braços de susto e perdição.
Por certo em teu redor dançaram maldições,
assobiaram pragas, esconjuros.
Assim fazem os néscios a quem
dá sombra ao verão e lenha ao frio
e poiso às aves de qualquer estação.
Inúteis ameaças.
Em minha nuca a tua seiva escorre.
Árvore que eu invento nunca seca.
( in Os Sítios, Licínia Quitério, edição de autor)
.Valsa para piano nº7, Op.64, F.Chopin (V.Ashkenazy)
15 comentários:
Achei linda a derradeira frase do poema!
Bom serão.
E há tantas árvores na floresta.
Abraço
Lindíssimo texto.
E a música regressou. Que bom!!!!
Um beijo.
Eu sabia...
O meu pinheiro estava lá à minha espera quando sonhei a casa
e eu desenhei-a com ele dentro do jardim
era altaneiro
desafiante (enfim)
o primeiro a ver a luz do sol
ingénuo demais para saber
que em silêncio e perigosamente estava a destruir o enorme muro do lado
onde morava gente
eu sabia
que aquela seria a última noite
e um rol de inquietações levou-me o sono
era a recusa
o remorso
a minha ideia de traição para com o meu querido pinheiro
e o seu perfume
Fugi
voltei as costas
desci a rua apressada
coração apertado
e ao voltar já era ausência
era um espaço uma saudade
hoje cheguei aqui
sem saber como
fui "provocada"
lembrei o meu pinheiro
e o vinte e um de Janeiro
apeteceu-me escrever
e voltou a nostalgia
(foi nesse distante dia)
já não é tão angustiante
mas continua... sim continua a "doer"...
gostei muito desta árvore, Justine
É muito bom trazer poetas desconhecidos. É maior a partilha.
Raizes, troncos, verdes
braços, azuis, céus,
folhas, flores, frutos,
abraços meus
para ti, para a Lícínia,
para o Chopin e o Ashkenazy
Belo poema!
Beijinho
Bem amo as árvores e semeio quantas posso e não consigo plantar todas as que quero. As que invento e parecem sêcas verdadeiramente têm a folha caduca. As sêcas que conheço vejo-as mastros para as aves que pausam na viagem ou promontório ou atalaia.
ÁRVORES
Braços em busca de luz,
ramagens que se contorcem
douradas pelo sol intenso,
dum caloroso estio.
Plácidas no reencontro,
duma prolongada noite.
De "Brotes de vida".
Um abraço bem grande
LIIIIIIIIIIndo!
Gosto de abraçar certas árvores e de sentir a sua energia na palma das minhas mãos .
Voltei, Justine.
Vamos ver por quanto tempo,pois o desejo era ver tudo.Bj
...um livro que guardo, com carinho!
Que lindo! excelente texto para completar a beleza da imagem, que local é esse?
Bjs
belíssimo poema.
Enviar um comentário