sábado, 7 de fevereiro de 2015

Receita para fazer um herói



Receita para fazer um herói
 
Tome-se um homem,
Feito de nada, como nós
E em tamanho natural.
Embeba-se-lhe a carne,
Lentamente,
Duma certeza aguda, irracional,
Intensa como o ódio ou como a fome.
Depois, perto do fim,
Agite-se um pendão
E toque-se um clarim.
Serve-se morto.
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Reinaldo Ferreira
(in Poemas, Livro I, Um voo cego a nada)


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Nocturno Op.32, No.9 (Il lamento e la consolazione), F. Chopin (Maria João Pires)

16 comentários:

jrd disse...

Uma poema de denúncia que tão importante foi nos anos de chumbo e que continua...

lino disse...

Tão actual!
Beijinho

João Roque disse...

Forte, mas belo e verdadeiro.
A música atenua...

anamar disse...

Muito belo e duro.
Beijinho e b.f.s.

Lilá(s) disse...

Parece-me que é mesmo assim!
Bjs

Graça Sampaio disse...

O último verso dá-nos um murro no estômago! (E temos levado tantos!)

Beijo, Justine.

Mar Arável disse...

Ao arrepio dos pássaros

Bj

Luis Filipe Gomes disse...

Há uma palavra caída em desuso que agora voltou a ser sinónimo: mártir.

Mas o proselitismo da nova ordem mundial tem outras.

Anónimo disse...

Fez-me lembrar o American Sniper
Boa seman, Justine

greentea disse...

demasiado intenso, agudo e irracional .
Dói com ou sem clarim.
numa época em que se mata por tudo e por nada, por ciúme, inveja ou apenas porque sim ...

Teresa Durães disse...

(gostei do "serve-se morto") Heróis vivos já não há?

Clarice disse...

Uau! Isso rende livros e livros.
Abraço.

Benó disse...

Triste mas real. É como greentea comenta - numa época em que se mata por tudo e por nada. Obrigada pela música a adoçar a leitura.

Duarte disse...

Belo contraluz para um poema que se lhe adequa... quanta beleza!
Besos y añoranza

jorge esteves disse...

Um belo poema, sem dúvida.
Mas perdoe-se-me sentir que, assim, também é um modo redutor de se ser (ou ter) um herói!

abraço, Zé!

Irene Marques disse...

Gosto muito deste poema, assim como de toda a poesia de Reinaldo Ferreira. Diria que é um poeta do absurdo, tão profundo em tudo que diz. Só não entendo como é que com uma obra destas, aparece o seu poema Uma Casa Portuguesa! É que não parece criação da mesma pessoa, de tão diferente e divergente do seu estilo. Alguém quer comentar?