domingo, 1 de novembro de 2015

Não se aprende


Não se aprende grande coisa com a idade.
Talvez a ser mais simples,
a escrever com menos adjectivos.
Demoro-me a escutar um rumor.
Pode ser o prelúdio tímido ainda
do cantar de um pássaro, uma gota
de água na torneira mal fechada,
a anunciação do tão amado
aroma dos primeiros lilases.
Seja o que for, é o que me retém
aqui, me sustenta, impede de ser
uma qualquer vibração da cal,
simples acorde solar, um nó
de luz negra prestes a explodir.

 Eugénio de Andrade, in O Sal da Língua
 
. 
Serenade no.3 in D Major, RV203, Mozart

                 

9 comentários:

Duarte disse...

E lá no todo, uma rola que, impertérrita, admira o horizonte pasmada, que nem pressentiu o disparo...
Do Eugénio que posso dizer?! Que foi, sendo, um dos mais grandes.
Abraços de vida, querida amiga

São disse...

Sempre apreciei Eugénio...
Bom serão e um beijo :)

Graça Sampaio disse...

Que magia na poesia de Eugénio de Andrade! E como concordo com o que aqui diz!

Muito bem escolhido. Beijinho.

Benó disse...

Eu acho que se aprende tanto com a idade. Também há quem não aprenda nunca, é verdade, mas esses são pequenos pontos escuros num dia luminoso.
Gosto da tua foto.

Luis Filipe Gomes disse...

É verdade que não se aprende grande coisa com a idade; apreciar as pequenas pitadas não é coisa de monta, é sabedoria, uma forma total de religião.

Maria disse...

Eugénio é sempre Eugénio... embora neste caso eu ache que se aprende sempre todos os dias. Muito mais com a idade...
Abraço em dia de chuva e de preguiça.

Teresa Durães disse...

Se adoro EA!

Majo disse...

~~~
~ São sempre agradabilíssimos momentos de leitura.

~~~ Beijinho grato pela lembrança. ~~~
~ ~ ~ ~ ~ ~ ~

TUDO disse...

Muito bonito. Tudo.