segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O menino que queria ser pássaro




















O menino sentia-se diferente. Diferente dos outros meninos que, sem se questionarem, continuavam a repetir os hábitos familiares e tradicionais, mesmo que daí não resultasse alegria. Mesmo que isso representasse uma espécie de CAPITULAÇÃO. A tradição queria-os a jogar boxe para se tornarem homens, e eles aprendiam boxe e contentavam-se com o prazer FALAZ de um elogio ou de um GALANTEIO ao fim do treino. A tradição queria-os mineiros em adultos, e eles mineiros seriam, sem perguntas nem ambições.

Ele era diferente. Ele queria erguer os olhos da ESCURIDÃO do quotidiano e alargá-los para horizontes de LIBERDADE. Ele queria chegar ao mundo da HARMONIA e da audácia. O menino sentia-se com forças para, num GESTO transgressor, criar asas e ser pássaro e não pedra, e viver em SINTONIA com o sonho que o preenchia. Ele queria dançar.

Foi duro enfrentar o preconceito e a intolerância. Por vezes o ESFORÇO parecia superior às suas frágeis forças, ou às forças que o seu frágil corpo fazia adivinhar. E no entanto permaneceu sempre, obstinada e corajosa, a vontade de ser pássaro. O SENTIMENTO seguro de que poderia voar em direcção a uma qualquer LUZ apenas pressentida, para além do abismo dos dias taciturnos.

Chegou a ser um grande BAILARINO.
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(tendo ainda na memória Billy Elliot, de Stephen Daldry)
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(7º Jogo das 12 Palavras)

44 comentários:

Maria disse...

Que bonita estória de ternura, força e luta para o jogo das 12 palavras...

Boa semana para ti.

Maria disse...

E que belas fotos!!!!

Teresa Durães disse...

Sempre se deve seguir os sonhos.

bonitas fotos

Anónimo disse...

Até me apetece dançar esta valsa, pena que esteja a chover, se não abria a janela e deixava-a entrar.

1/4 de Fada disse...

Que texto tão belo e que criatividade tão grande, fez-me lembrar Nijinsky e o seu "Pássaro de Fogo"... palavra que quase consegui ver o bailado.

Ricardo Silva Reis disse...

É um fascinio vir até aqui onde mora tanta qualidade e sensibilidade.
Adorei
Beijinhos

Anónimo disse...

Do sonho das fotos da música e das palavras, deste vida a tantos sonhos, que se tornaram realidades.
Obrigado amiga
Abraço

Patti disse...

Imaginei também aquela cena quando ele diz, quase antes de sair da audição, porque gostava de dançar.
Explicou o sonho e atingiu-o. É o que devíamos sempre fazer. Tentar.

Rodrigo Fernandes (ex Rodrigo Rodrigues) disse...

UM COMENTÁRIO SINGELO AO TEU COMENTÁRIO:

Justine disse...
Lindíssimo, esse edifício!
(um pouco difícil de "decifrar", o labirinto dos teus vários blogs:)) )

Ora bem: não é um labirinto, é uma árvore.

O mapa acabei de o reproduzir há pouco no meu blogue portal: "O Lugar e os Monos".

Dá bons passeios quando me visitares.

As coisas por onde ando são, por si mesmas, um labirinto. Daí esta sensação de andar perdido.

Para não me perder de todo, organizei um mapa. Na verdade, o mapa é uma árvore, já que esta simboliza a complexidade crescente.

Alguém disse um dia que não há caminhos em linha recta. Quem quer ir de um lado para o outro tem que contornar muros, cercas, edificações, arvoredos, silvados, lagos, rochas. Se o não fizer, está numa estrada asfaltada e, sabes bem, as estradas asfaltadas não levam a parte nenhuma: elas são lugares insignificantes em que só entramos lá com o propósito de delas sair o mais rápido possível.

Rodrigo Fernandes (ex Rodrigo Rodrigues) disse...

Estou-me nas tintas para as 12 palavras e para os joguinhos barrocos de salão. Mas o texto é muito bonito. E tem que se lhe diga.

Aquele, o que queria dançar, sou eu. Impediu-mo uma paraplegia infantil. Entretanto, recobrei; mas não pude mais dançar. Quis voar mas não consegui, faltou-me a oportunidade. Tornei-me andarilho, saí das estradas de asfalto, calcorreei as chanas de Angola, Zaire e Zâmbia, penetrei em florestas galeria à força de catanada, suei sangue no grande deserto onde me estouraram os pulmões e me queimaram sezões infernais. Foi a minha dança macabra. Mas foi de sonhos que construí os meus dias.

Dizia Saint Ex que há para aí muitos Mozarts assassinados. Isso é que me dói. É ver a quantidade de bebés que morrem em África todos os dias, de subnutrição, doenças endémicas e de SIDA. África é o mais vergonhoso dos campos de concentração ... de Mozarts!

É deles que tenho pena, que não sabem questionar, que não sabem que podem questionar, para quem nunca houve uma questão, um gesto transgressor, ou mesmo um sonho. Os seus corpos são lugares vazios à espera de serem emprateleirados.

O teu texto é belo, mas a vida para muitos é muito porca.

Um beijinho.

Alberto Oliveira disse...

... não é fácil encaixar as palavras dadas a mote num sítio certo de um texto, imaginado de propósito para onde elas possam caber e fazer sentido. Tu saíste-te muito bem. Parabéns.

Abraço e sorrisos.

jorge esteves disse...

Bela tocata para um menino só. Um jogo que, desamarrado do espartilho da regra, desenha parábolas palavras num bonito bailado...

abraços!

Duarte disse...

Até certo ponto bailar é voar, tanto com a imaginação como com o corpo. O que importa é a pujança com que se acredita nessas possibilidades que impulsar-nos-ão a supera as dificuldades de representa a disciplina.
Bonita história que merecia, como deve ser, um final feliz.
Gostei imenso, como tudo aquilo que tem que ver com a superação do ser humano.
Um relato cheio de matizes duma qualidade na prosa insuperável.
Um grande abraço

Sensualidades disse...

ja quis ser passaro

Jokas

Paula

mariam [Maria Martins] disse...

Justine,
PARABÉNS!
o texto, os outros textos...

_______voar_______

gosto muito de lê-la.

como referi à "Ell", vamos ver se consigo estar no lançamento! que corra tudo muito bem e que os(s) livros sejam um sucesso (de vendas)

boa semana
um sorriso :)
mariam

Anónimo disse...

lindo!!!

as tuas palavras, as tuas fotos, a tua ternura, a tua sensibilidade, o significado que sempre dás a tudo...

o filme... daqueles que nunca mais se esquecem!!!
beijocassss
vovó Maria

Sérgio Ribeiro disse...

Diria que este "exercício" tem o seu quê de ilusionismo: amarra-se a ilusionista a 12 palavras, ela mete-se numa caixa fechada a cadeados, coloca-se a caixa no fundo de um riacho, no cimo de uma árvore ou dentro de um computador... e espera-se.
E a ilusionista sai de lá, de dentro da caixa, com as 12 palavras espalhadas por um belo texto, e com o brinde de umas fotografias, a propósito e como se fossem 13ªs palavras, para os assistentes/visitantes.
Que hei-de dizer? Quando for grande também quero ser ilusionista... e, talvez, bailarino!

vida de vidro disse...

Conseguiste um texto lindíssimo, a partir destas palavras. E, sim, fizeste-me lembrar o filme que adorei! **

samuel disse...

Muito bom (como sempre) como exercício de inteligência e talento.
Muito bom, igualmente, por me lembrar o filme (que tenho para aí). Decididamente... a ver novamente.

Abreijos

mac disse...

É preciso coragem para ser diferente dos outros...Fazlembrar o "Fernão Capelo Gaivota"...

Rosa dos Ventos disse...

Também ia falar no "Fernão Capelo Gaivota"...
Ainda hei-de assistir ao lançamento de um livro teu!
Pensa nisso...

Abraço

Licínia Quitério disse...

Braaavo!!

Um beijo, outro.

jawaa disse...

Na verdade esse teu pássaro-bailarino, assim embrulhado de azul e brancos-cinza, fica ainda mais bonito!
Mounty, dás-te bem com o menino pássaro?
Beijinho

JPD disse...

Apesar do sucesso e do reconhecimento de um Bolshoi o preconceito relativo aos bailarinos ainda perdura.
Na dança e coreografias contemporâneas talvez haja menos estigma.

No entanto, é lamentável.

É tão difícil encobtrar jovens que afirmem tão prematuramente um desígnio e vê-los estigmatizados por terem feito a escolha de bailarino.

Bjs

mfc disse...

É sempre bom ver alguém a triunfar, nem que seja em sonho!

Anónimo disse...

Ser pássaro... sonhar
Planar, rumo ao vento
Brilhar com a luz
e...
dançar...
no firmamento!!!

Bonito e concretizável sonho!

beijo
ausenda

mundo azul disse...

Billy Elliot, foi um dos filmes que ficou na minha lembrança!
Como é difícil vencer os preconceitos principalmente, para uma criança...
A última cena do filme é deslumbrante!

Gostei daqui e voltarei, com certeza...

Beijos de luz!

Fernando Samuel disse...

Repetindo-me: com ou sem as 12 palavras, um texto muito bom...
E repetindo-me outra vez: venham mais textos destes, mesmo sem o desafio das palavras obrigatórias.

(do filme, lembro-me...)


Um beijo.

M. disse...

Parabéns, Justine! As palavras obrigatórias que usas neste teu texto (aliás também nos jogos anteriores) deslizam neles com enorme beleza.

Nilson Barcelli disse...

Belíssimo texto cara amiga.
Voar é essencial para a vida, ainda que os pés no chão devam ser uma referência a não esquecer nunca...
Beijinhos.

Pitanga Doce disse...

Li o texto várias vezes mas por fim me deixei levar pela música e pelas gaivotas que voam. Juro-te que vi uma a mexer-se.

Violeta disse...

Billy Elliot foi um filme que me marcou muito.
Quantos meninos que queriam ser pássaros andam por aÍ?
feliz dia
como vai o gato em dias de chuva?

Carla disse...

"erguer os olhos da ESCURIDÃO do quotidiano e alargá-los para horizontes de LIBERDADE"...a dança da vida feita de pedaços de sonho!
beijos

~pi disse...

conheci uma história assim,


:)



BEIJO

mdsol disse...

Sempre brilhante!
beijinho da ilha (assim cumó queijo) rsrsrs
:)))

Anónimo disse...

Para além da beleza do texto e do conteúdo magnífico, apetece-me salientar que afinal o sonho de certa maneira se cumpriu. Talvez tenham apenas faltado as asas...

cristal disse...

Já não posso dizer nada de novo digo tão somente que gostei. BJS

Chat Gris disse...

Que história tão bonita!!

' Rôh disse...

Gosto, particularmente, desse texto. ;DD

Boa noite, um abraço.

bettips disse...

Ao sabor das tuas asas!
Passam as nuvens rindo-se da ave.
Mas mais alto ainda, o azul procurado.
Bjinho

Anónimo disse...

Também vi o filme que muito me emocionou. O argumento revela uma grande sensibilidade e conhecimento das pessoas, dos seus sonhos e constrangimentos. Aquele miúdo e aquele pai, todo o ambiente de rudeza aparente de gente boa mas com preconceitos ( e conhecemos tanta gente assim) é muito bem observado e representado. O céu cinzento e pesado, o irmão... enfim, onde já se viu um filho de um mineiro querer ser bailarino! E, depois, o orgulho quando entenderam. Pois, a Arte não escolhe sítio para se revelar.

O texto está altura do filme e a música não podia ser melhor escolhida.

Campaniça

ROSASIVENTOS disse...

... a

in-ven-tar de-va-ga-r o teu


nome,

Patanisca disse...

Os rapazes, coitados, têm mesmo problemas! A mania de andarem sempre a jogar ao soco uns com os outros, parecem parvinhos, a rir, a correr, caras cheias de nódoas negras e ranho nas mangas das camisas. Depois, crescem e vão, como em rebanhos, para a tropa, para as minas, para as fábricas, para os empregos, para os casamentos, para a ranchada de filhos a andarem sempre a jogar ao soco uns com os outros...

Eu gosto de criar asas e dançar e voar como o menino da história (neste país é difícil, fica toda a gente a olhar para nós e a recriminar com os olhos).

Desculpa perguntar. O que é o jogo das 12 palavras?

Sente-te feliz, justine. Mille baci.

Tinta Azul disse...

Roubando as palavras à Vadia, azulo-me no céu e com as palavras.
Bjs