segunda-feira, 24 de novembro de 2008

A breve visita do meu amigo irlandês



O meu amigo irlandês veio visitar-me. Não só por saudade, disse ele, mas quase por uma questão de sobrevivência. Cansado do seu EREMITÉRIO, onde vivia num MISTICISMO de SILÊNCIO e comunhão com a natureza, precisava com urgência de um pouco da luz e da suavidade do sul para poder enfrentar um inverno que se adivinhava feroz, pois mal começara já enfeitava todas as noites os beirais com longos SINCELOS, que pela manhã brilhavam como brincos de cristal. O sol e a luz do sul, sublinhava, seriam um UNGUENTO apaziguador para as suas MÃOS doridas, para o corpo envelhecido e para a alma cheia de nódoas negras.

E (continuando a esclarecer-me com gravidade e graça) para que a terapêutica fosse completa, precisava também dos cheiros que no norte lhe faltavam: o cheiro do PÃO quente, o odor da lenha a queimar devagar, a PRECIOSIDADE perfumada de um campo de urze e alfazema coberto por nevoeiros leves.
“There is an INFINITUDE of reasons for one to be happy in your country…”.

Teria sido ALEIVOSIA minha não lhe aceitar a infinidade de razões. Embora, conhecendo bem a sua fina ironia, eu vacilasse entre a COMISERAÇÃO pela sua possível fragilidade física e a quase certeza de que se tratava de efabulação sua por motivos indecifráveis. Na dúvida, e sorrindo, limitei-me a URDIR à sua volta um casulo de ternura e amizade, e a recebê-lo de braços abertos.
Por cá ficou vários anos…
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(8º jogo das 12 palavras)
.
My Ideal, Coleman Hawkins

42 comentários:

Teresa Durães disse...

Jogo de palavras bem concebido!

Lúcia disse...

Justine: esses jogos que vais fazendo das x palavras são um pretexto excelente para textos deliciosos. Que bom!

Fernando Samuel disse...

É ao sul é que está o sol, é que está a cal, é que está o sal...

Bom texto!


Um beijo.

cristal disse...

Como já nos habituaste, com o jogo das palavras proporcionas-nos o deleite da leitura em cada conto que nos mostras. Parabéns outra vez e um beijinho.

mena maya disse...

Um casulo de ternura e amizade e o sol e a luz do sul operam maravilhas!


Um texto delicioso! Parabéns!

Um beijinho do frio do norte!

BlueVelvet disse...

Já me chegaram notícias do lançamento do livro no Porto.
Sei que foi um sucesso.
Mas com textos desta qualidade tinha mesmo que ser.
Lindo, Justine.
Parabéns e beijinhos

Helena Guimarães disse...


Obrigada pelo comentário no meu blogue.
Também eu gostei de te ver.
E gostei de te ler, principalmente na " Amizade interrompida". Parabéns!
Beijinho

Helena

Anónimo disse...

Justine
Belo texto, envolvendo garbosamente as palavras obrigatórias! Goste muiiiiito!
Abraço

bettips disse...

Um texto bem imaginado e construído, Justine!
Mas nem precisava de se explicar nem ser teu amigo, o "irlandês"... basta conhecer a pessoa(s) e o lugar, bater à porta.
O que não convém espalhar muito por causa das procissões ao lugar de.
Bjinho

Fá menor disse...

Este teu amigo irlandês nem sabe a sorte que tem :) uma amiga tão bonita e que escreve tão bem!

Gostei muito de te conhecer :)

Beijinho grande.

~pi disse...

ternura-dura :)





~

Pitanga Doce disse...

O texto está "nos conformes" como sempre, mas eu sou como as crianças e me perco nas imagens. E dirão: e esta mulher ainda revela que se perde nas imagens.

Só quem está longe é que sabe...

Anónimo disse...

Que lindo!
Mas a música Justine, foi o que mais me encantou, fiquei por aqui encantada.
Obrigada
Realmente porque não deixo completamente os blogues provocadores e da mau gosto aqui do burgo?
Não mais Alhos Vedros ao Poder, não mais Arre Macho

Abraços da Lagartinha de Alhos Vedros
Até breve

Eli disse...

Olá!

Pena que tenho péssima memória para caras!

Depois nunca sei quem é quem!

lol

:)

Fernando Santos (Chana) disse...

Olá Justine, belas fotogrfias...Belas palavras...Espectacular...
Beijos

Maria P. disse...

Que maravilha, adorei!
:)

Beijinho*

JPD disse...

Saíste-te muito bem desse exercício das 12 palavras.
Bjs

mdsol disse...

8º jogo de 12 palavras: oitava vez que a Justine brilha!
:)))

Sensualidades disse...

paisagem serena

terra facil de amar

Jokas

Paula

Maria disse...

Excelente texto para este jogo!
Excelente, mesmo!

Um beijo

Sal disse...

Texto excelente!
Fotos de primeira.
(A música é que não ouço nem que faça sol! Deve ser do browser que uso).
beijinhos

mfc disse...

A arte de bem receber feita escrita a concurso.
Bonito!

Duarte disse...

Excelente domínio num jogo de palavras, que fluem com a perfeição à que nos habituaste, na arte de exercer escrevendo e plasmando sensibilidade.
Gostei, e muito.

El verde e o azul predominam num ambiente criado para o texto...

:)))

Um forte abraço

Violeta disse...

Oh! que bonito....
bjs ensonados

Anónimo disse...

se não escrevesses as 12 palavras em maiúsculas, ninguém conseguiria adivinhá-las, de tal forma estão bem integradas no texto. excelente.

sabes, a brunilde inventou um passatempo...

marradinhas amistosas

Anónimo disse...

exma. senhora dona justine,
admirador sempre renovado e acrescentado de vocência venho exprimir-lhe a minha gratidão por mais este excelente texto, estas "omeletas" obrigadas a "ovos" que lhe são fornecidos e a que sempre acrescenta ingredientes sob a forma de fotos e som que os tornam pratos únicos... e excelentes.
Adito, eu que adicto sou dos textos de vocência, a admiração pela forma brilhante com que deu a volta a uma palavra que lhe foi fornecido com importação anglófona, até corrigindo, com rara elegância, erro que, a ser erro, seu não era.
E mais não digo.

Paula Raposo disse...

Um maravilhoso texto!! E um prazer ter-te conhecido. Beijos.

Rosa dos Ventos disse...

Um abraço para ti pelo teu "Amigo Irlandês"...
Vai coligindo estes jogos e depressa publicarás um livro.

M. disse...

Muito bonito este teu texto, mesmo muito, Justine. De grande suavidade e beleza, assim como as fotografias.

Anónimo disse...

Silhueta de palavras
ternas...

Lindo o teu jogo!

Beijo

vida de vidro disse...

Um belíssimo texto construído à volta das palavras obrigatórias. E as fotos... e a música... :) Acho que vou ficar por aqui. Como o teu amigo irlandês. **

1/4 de Fada disse...

Que texto maravilhoso. Casa incrivelmente com as fotografias (são tiradas por ti?) e com a música. Confesso que comecei a ler e fiquei imediatamente "agarrada, poderia ser o início de um livro... Se assim fosse, já estaria na minha mão, na fila da caixa para vir comigo para casa, avolumar a pilha que me espera nas férias de Natal. Um dos desgostos com que ando é a falta de disposição para ler, compro os livros e não consigo lê-los, mesmo quando tenho tempo, tal é o meu estado de cansaço.
Precisava de um retiro na paisagem que é tão bem descrita aqui!

Benó disse...

Que o amigo possa continuar junto de ti por longo tempo........

Boa aplicação para a "infinitude"!; palavra díficil, quanto a mim, e quase impossívvel de aplicar.

Esperemos o que se segue.

Sê Feliz!

Deusa Odoyá disse...

Olá amiga!
Passei para lhe conhecer.
Adorei seu blog e texto.
As palavras, as fotos e a música, contagiantes.
Parabéns...
Te aguardo em meu cantinho.
Sua nova amiga.

Regina Coeli.

Anónimo disse...

Para além d ter gostado do jogo de palavras, comprendi perfeitamente o seu amigo irlandês. Quando vivi na Suécia, faltavam-me sempre a luz, o calor e os cheiros do sul.

Eyes wide open disse...

And there really are... o pior é que quem cá vive, por vezes não sabe tecer estes casulos de ternura em torno delas, e tudo se vai diluindo... que música fantástica, Justine.


*

dona tela disse...

Venha conhecer os meus tios.

Muito obrigada pela atenção.

samuel disse...

Muito, muito bom!
(Sincelos... não lembraria nem ao demo!)

Abreijos

Anónimo disse...

é sempre tão bom vir aqui... e quando "jogas"!!!! srs ouvintes :)! és de primeira apanha!
beijocasssss
vovó Maria

Maria Carvalhosa disse...

Amiga Justine,

Estou ansiosa por voltar a encontrar-te no lançamento do livro do Alberto. Gostei muito do nosso convívio aquando do lançamento do livro da Licínia.
É muito importante que lá estejamos todos. Entretanto, irei enviar-te um mail mais detalhado. ;)

A propósito deste teu post, gosto das fotografias e do texto. Voltarei com mais tempo, para apreciar melhor este e os anteriores.

Beijos.

Mateso disse...

The poor man was rather aware . Oh yes, he was, indeed...
Na verdade como gostei da afabilidade das palavras na hospitalidade de um belo conto.
Como sou o cúmulo do despistanço, não sei quem é quem.... uma tristeza.
Um bj.

Anónimo disse...

palavras de carinho e reflexão muito bem urdidas.

Obrigado.


P.S. - "Salve-se quem puder" e "Cenas da vida diplomática", do Durrell, são os livros mais engraçados que já li.