segunda-feira, 4 de julho de 2011

Poema da Morte Aparente

Nos tempos em que acontecia o que está acontecendo agora,
e os homens pasmavam de isso ainda acontecer no tempo deles,
parecia-lhes a vida podre e reles
e suspiravam por viver agora.
A suspirar e a protestar morreram.
E agora, quando se abrem as covas,
encontram-se às vezes os dentes com que rangeram,
tão brancos como se as dentaduras fossem novas.
(António Gedeão, Obra Poética)
Nocturno op.32 nº9, F. Chopin (Maria João Pires)

33 comentários:

Rosa dos Ventos disse...

É o chamado belo horrível!
Foto muito bem escolhida...além da música e da intérprete!

Abraço, Justine

Zé-Viajante disse...

Justine, Gedeão, Chopin, Maria João Pires.
Mistura explosiva!
Um poema lindo num post admirável.

trepadeira disse...

É preciso eliminar os abutres.Não,estes não,os outros.

Mesmo que a morte seja real outros se apresentarão para o combate.

Maria João Pires,pois,mataram em belgais um projecto único.Que raio de gentinha.

Um abraço,
mário

Luis Filipe Gomes disse...

Muito belo este teu instante.
O Gedeão é claro como um cientista deve ser; depois descobre-se a profundidade do não dito. Aqui penso que ele retoma a parábola em que Cristo ao olhar os restos mortais de um cão em decomposição, após os comentários de lamento dos seus acompanhantes relativamente à sorte daquele animal lhes disse "olhai como são brancos os seus dentes": Por um lado a importância de não nos agarrar-mos ao que é negativo; por outro de percebermos a transitoriedade de tudo; finalmente de entendermos que o tempo releva o fundamental.

Maria disse...

'Conjunto' de primeira água!
Para ficar a olhar e a ouvir, depois de ler.

Beijo.

M. disse...

Para mim, a tristeza e um certo desânimo é o que mais sobressai neste post. Mas lindo, Justine.

João Roque disse...

O "Viajante" já disse tudo...

nos "dias de agora" disse...

Terrivelmente lúcido.
O poeta, o poema, e quem o escolheu mais as companhias para compor este conjunto... para os "dias de agora".
Pungente beleza (delicioso pungir de acerbo espinho) de tudo isto.
E. também, ... a apelar à tomada de consciência e à luta.

Blondewithaphd disse...

Não conhecia. Obrigada.

jrd disse...

O "outro lado" do sublime.
É mesmo assim...
Abraço

Sara disse...

Um belíssimo poema a evocar a miséria, pelos vistos cíclica. Ou será permanente e permanentemente vigiada pelos abutres?

Sara disse...

Volto só para dizer que a fotografia é fantástica. :)

Sensualidades disse...

magnifico

Bjinhos
Paula

lino disse...

Linda música para um bonito poema!
Beijinhos

Mar Arável disse...

Tudo muito belo

nestas urnas

R. disse...

Uma espécie de eterno retorno, como só Gedeão sabia expressar. Oxalá da sucessiva repetição dos acontecimentos, surjam por fim novas e melhores soluções no lugar dos protestos e do ranger de dentes.

E Chopin, sempre! Ouvi-lo, enquanto aqui se está, é um maravilhoso presente, pelo qual só há a agradecer.

Um forte abraço.

Graciete Rietsch disse...

Porque termina assim o poema genial de Gedeão?
"Porque até mortos vêm ao nosso lado".
Genial também é a combinação de Chopin com Gedeão.

Um beijo sempre com muita amizade e admiração.

Zé-Viajante disse...

"Copiando" a Sara, volto para acrescentar que os comentários são o espelho de todos.Gostei do que li.

greentea disse...

gostei imenso. Acho q os pobres dos mortos continuarão sem pre a ranger os dentes, face a certas atitudes de alguns vivos!!

mfc disse...

Vivamos o nosso tempo com a alegria que merecemos!

Anónimo disse...

António Gedeão sempre tão profundo.

Mel de Carvalho disse...

A importância do detalhe no de_talhar da vida.

Minha amiga, quase em férias, deixo-lhe um enorme obrigada pelos deliciosos momentos de não morte, mas existência plena, que o seu olhar nos trás.

Beijo daqui
Mel & Xiluca (ehhh)

ANTONIO NAHUD disse...

Que forte!

O Falcão Maltês

Duarte disse...

Ao que se deve chamar uma fotografia com profundidade de campo: magnífica! Parabéns.

O texto, uma delicia, sendo duro, bem estruturado: convida à reflexão.

A ave, atenta, aguarda o momento da agonia... é a sua condição de vida.

Beijinhos e um abraço também

anamar disse...

E, com este Noturno me vou deitar...
Em paz, assim epero.
Bj

bettips disse...

Nocturnos e soturnos nos tentam pôr: resistiremos porque
..."eles não sabem que o sonho..."
Um belo olhar, todo o post; que o pensaste fundo e o caminho é longo.
Bjs

Fernando Samuel disse...

Dir-se-ia que foi escrito hoje, agora mesmo...

Um beijo.

Clarice disse...

Como se os dentes guardassem os sonhos não realizados.
Há que se manter a esperança, que de todas as crise se saíram fortes e renovados.
Às vezes penso ser um modo cruel de seleção da espécie essas trapaças contra a humanidade.
Abraço.

Lilá(s) disse...

Um belo poema de António Gedeão bem adaptado á época...e com o abutre bem alerta...
Bjs

Sensualidades disse...

quem em dera poder estar tambem numa queda de agua ao sol

Bjinhos
Paula

hfm disse...

Que dupla! Magnífico!

Teresa Durães disse...

perfeitamente actual!

GR disse...

Retratas a tristeza de uma forma sublime!

GD BJ,

GR