mas alguém me deve ter morrido.
Senti essa morte num arrepio da tarde.
Qualquer amigo, um dos vários
que não conheço e só a poesia
sustenta. Talvez a morte fosse
outra: um pequeno réptil
no sol súbito e quente de março
esmagado por pancada certeira;
um cão atropelado por um bruto
que, ao volante, se julga um deus
de arrabalde, com sucesso garantido
junto de três ou quatro putas de turno.
Talvez a de uma estrela, porque também
elas morrem, também elas morrem.
(Os Sulcos da Sede, Eugénio de Andrade)
.Sonata para piano nº2(Marcha Fúnebre), F.Chopin
25 comentários:
Vamos todos morrendo um pouco cada dia...
Ontem partiu, fisicamente, António Tabucchi, o autor de "A Mulher de Porto Pim", livro que me ofereceste e assim mo deste a conhecer há uns bons anos!
Abraço
Apetece ficar aqui. Pela fotografia. Pelo poema. Por Chopin. Tranquilamente, aqui.
Apesar do sol lá fora...
Ou quem sabe um coração que ao ver o Sol mergulhar no mar, quisesse mergulhar também...e ir.
Beijos e boa tarde, Justine.
A morte é inevitável e triste.
Mas capaz de exprimir esse sentimento de tristeza, através de Eugénio de Andrade e Chopin, é extraordinarismente belo e conforta.
Obrigada.
Um beijo.
belissima sempre a poesia de Eugénio, ainda mais ao som , tamb+em belissimo, de Chopin!
Um abraço grato por este momento
Tudo belo: imagem, poema e música!
Beijinho
Tem dias em que também me sinto assim , por vezes o arrepio é tão real que me assusto quando o telefone toca...
Bjs
Um arrepio, uma sombra, uma premonição. Tudo tão sensível!
No arrepio da tarde até o sol morre...lentamente.
Um poema sentido, como só ele era capaz de sentir e de no-lo dizer!
Beijos,
também sinto isso, por vezes... não sei se foi a lagartixa, se algum cão, se alguém que me era próximo, mas sinto-o com Eugénio diz
Não há morte
nem princípio
Não há morte
nem princípio
Quase parece que Eugénio de Andrade escreveu este poema ouvindo Chopin, quem sabe...
Um dia que se apaga que, dito assim, com propriedade: para isso é o Sr. Eugénio de Andrade.
A mim inspirou-me assim...
Esse sol do fim da tarde…
Que com estupor contemplo.
Raízes da minha terra trás!
Paixão que dilacera o meu ser.
Um grande abraço, querida amiga
És perfeita na conjugação do som , da imagem e da palavra.
Sublime!
Pelo país moribundo que havemos de curar e levantar,mas arrepia.
Um abraço,
mário
Eugénio de Andrade nunca desilude. É sempre uma "pancada certeira" que nos interpela e sensibiliza. O sol, esse, felizmente não há-de morrer tão cedo. :)
Um abraço.
Nada dura para sempre, beijo Lisette.
Olho esse cair de tarde...e fico na esplanada da leitura...onde cai uma chuva de café aroma...e embala o meu olhar.
Perdido de beleza, me confesso...neste por aqui estar!
Beijo
sim, existe esse arrepio; e nesse instante, algo morre também em nós, mesmo que imperceptivelmente.
um dos mais belos poemas de eugénio de andrade.
abraço, justine.
(julgava já ter comentado aqui mas provavelmente esqueci-me de publicar o comentário...)
Uma conjugação perfeita de palavras, música e foto.
Sempre Chopin,
Sempre a grande poesia,
Aqui, até a morte esquece de exercera sua função.
Gd BJ,
GR
A beleza triste. Silenciosa. Triste.
A beleza da imagem e das palavras.
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