Five o'clock Tear
Coisa tão triste aqui esta mulhercom seus dedos pousados no deserto dos joelhos
com seus olhos voando devagar sobre a mesa
para pousar no talher
coisa mais triste o seu vaivém macio
p'ra não amachucar uma invisível flor
que cresce na penumbra
dos velhos corredores desta casa onde mora
Que triste o seu entrar de novo nesta sala
que triste a sua chávena
e o gesto de pegá-la
E que triste e que triste a cadeira amarela
de onde se ergue um sossego um sossego infinito
que é apenas de vê-la
e por isso esquisito
E que tristes de súbito os seus pés nos sapatos
seus seios seus cabelos o seu corpo inclinado
o álbum a mesinha as manchas dos retratos
E que infinitamente triste triste
o selo do silêncio
do silêncio colado ao papel das paredes
da sala digo cela
em que comigo a vedes
Mas que infinitamente ainda mais triste triste
a chávena pousada
e o olhar confortando uma flor já esquecida
do sol
do ar
lá de fora
(da vida)
numa jarra parada
.
in A Palavra O Açoite (1977), Emanuel Félix
Valsa para piano nº7, Op.64, F. Chopin (V.Ashkenazy)
23 comentários:
Por vezes sós
mas nunca isolados
Naquela solidão daquela mulher, está lá tudo. (Até a chávena que não se vê, segura pelos dedos trémulos sobre os joelhos ossudos, secos.)
Um belo retrato (e triste triste), em que a fotografia é um quadro, o poema uma fotografia, a música a moldura de um quadro. Tudo.
Triste triste. Mas belo. Por isso não-triste mas belo.
A solidão é quase sempre triste; neste poema de um autor que desconhecia está bem demonstrado.
Como já foi referido e é hábito neste blog é perfeita a sintonia do texto, da foto e da música.
há dias assim , justine....
depois vem o sol e as flores nascem de novo
beijinhos
Coisa tão triste a solidão...mas ainda mais triste a solidão entre gente!
E também acontece...
Abraço
..."do silêncio colado ao papel das paredes da sala digo cela", uma delícia, infortunadamente a remeter-nos para outros silêncios e uma outra cela, fria, a cela em que se transformou o meu país.
O meu agradecimento por me dares a conhecer alguém que assim escreve.
Te desejo e aos teus, sereno solstício de Inverno, alegres festas, Natal de amor e paz e um 2013 bem melhor do que 2012, num carinhos abraço.
Belo poema!
Beijinho
Que triste é a solidão!! Mas mais triste ainda é a solidão a dois. Há que arranjar, por nós próprios, maneira de preencher a vida e isso libertar-nos-à da solidão.
Um grande abraço.
Só na beleza das coisas nos salvamos.
Não conhecia o Emanuel Félix. Estupendo. Certeira a valsa! Arranca o olhar do poema para a vida lá de fora.
Ui! Que coisa triste! Viver sozinha nem sempre é isso. Há prazeres que só quem se conhece e sabe conviver consigo sabe extrair de momentos quietos e de lembranças doces. É um longo aprendizado.
Beijo
Só existem amanhãs de sol
com boas memórias
A beleza da música pode tornar a solidão menos só.
Abraço
Às vezes a solidão é boa companheira e, quase sempre, boa conselheira.
Aproveito para te desejar um Natal Feliz
...aportar aqui...ficar um pouco e saborear palavras, partilhas...
Partir de sentir cheio e esquecer a crise...
Boas festas amiga!
.•*´¨`*•.¸¸.•*´¨`*•.¸¸.•★♥ Hoje venho desejar saúde, paz, amor e muita alegria... FELIZ NATAL!
Beijinhos
É preciso humildade para reconhecer que não fazemos ideia do que Deus está
planejando a nosso respeito. Precisamos reconhecer que pode ser algo radicalmente
diferente daquilo que já recebemos dele. Precisamos não esperar nada em especial para
nos surpreender e maravilhar ao ver o que Ele fará.
Com essa mensagem de fé esperança e amor
venho te desejar um abençoado Natal a você família e amigos.
De todo coração agradeço por compartilhar sua amizade comigo
marcando sua doce presença de Natal a Natal.
Que a festa do aniversariante seja linda e inesquecível.
Beijos no coração e carinhos na alma,Evanir.
Solidão, só a consentida...
Poema triste. Tristes são os dias.
Beijo amigo
Ana
e ficam tão tristes os tristes...naquela leda e triste madrugada... como diria o belo Camões ou o João Ruiz (que já não sei quem é quem )
um beijo para ti
Um abraço de passagem.
Zé-Viajante
Que coisa bonita... e triste!
Beijo.
Os últimos dias do livro foram de loucura e levo tudo muito atrasado.
Excelente texto.
Um abraço bem grande e a saudade à porta
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