domingo, 3 de agosto de 2014

Elegiazinha


ELEGIAZINHA
 
[i. m. nikita (gata da Inês)]

 
Gatos não morrem de verdade:
eles apenas se reintegram
no ronronar da eternidade.

Gatos jamais morrem de fato:
suas almas saem de fininho
atrás de alguma alma de rato.

Gatos não morrem: sua fictícia
morte não passa de uma forma
mais refinada de preguiça.

Gatos não morrem: rumo a um nível
mais alto é que eles, galho a galho,
sobem numa árvore invisível.

Gatos não morrem: mais preciso
- se somem - é dizer que foram
rasgar sofás no paraíso

e dormirão lá, depois do ônus
de sete bem vividas vidas,
seus sete merecidos sonos.

(in Parte Alguma, Nelson Ascher, Companhia das Letras)

.

My funny Valentine, Gerry Mulligan Quartet

15 comentários:

Graciete Rietsch disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Graciete Rietsch disse...

Muito lindo este poema específico para gatos. Mas bem se podia aplicar á Malu, a cadela labrador da minha filha Susana. Tanta saudade que nos deixou!!
A música perfeitamente adequada á "elegiazinha".

Um beijo.

Luis Filipe Gomes disse...

Os gatos sim! ....como as pessoas! porque são pessoas.

faz-de-dono disse...

Pois é!... mas também não é...

Porque ainda é cedo, nosso Mounti.
E porque a morte de alguém (e dos gatos...) é sempre para os outros, para os que sobrevivem.

Graça Sampaio disse...

Muito bonita a elegiazinha!

Que me deixou de lágrimas nos olhos: no mês passado perdi dois dos meus gatos...

So sad...

jrd disse...

Gatos como cães. Não morrem porque nós não deixamos...

João Roque disse...

Gostaria de ter publicado isto quando o meu Boris partiu...

João Roque disse...

Gostaria de ter publicado isto quando o meu Boris partiu...

greentea disse...

ficam para sempre connosco, cães , gatos e pessoas a mirar-nos do alto, a tomar conta de nós

Anónimo disse...

Hoje vou ler isto ao meu Tobias

Mar Arável disse...

Gosto dos meus cães

a brincar com os gatos da vizinha

Bj

São disse...

Um mimo o post , tanto pela foto como pela ternura do poema .

No mural do meu facebook há uma foto minha onde escrevi um poema teu...

Bom serão :)

Duarte disse...

E tem razão, só parte o físico, fica o gesto e o ronroneo para a eternidade... e os gatos possuem o dom de marcar as nossas vidas: neste momento lembro-me da Princesa.
Um grande abraço, querida amiga

Anónimo disse...

Emoldurado pela LUZ
e pelo poema tão delicado.
Os gatos (também) do nosso ser, não só de estar.
Bj da bettips

GR disse...

Lindíssimo poema.
Na verdade os GATOS, não morrem!

Mil Bjs,

GR