Retrato de cidade
A cidade surge-nos ao longe, imenso e plácido mar de ruelas emaranhadas em tons ocre e volumetria homogénea, amortecida à distância pela leve neblina que sobe do rio, a essa hora azul por espelhar sem constrangimentos o céu transparente e doce.
O distanciamento porém ilude-nos. A cidade, à medida que nos aproximamos, revela um labiríntico sobe-e-desce de ruas, esquinas, passagens, praças e becos, tecido arquitectónico de traça medieval erodido pelo tempo. A quebrar a mansidão da planície urbana sobressai, majestosa e vigilante, a torre alta da catedral, farol místico que derrama sobre a cidade a insinuação de uma religiosidade ecléctica. Porque esta função já terá sido desempenhada, em tempos outros, por minaretes e cúpulas sefarditas.
Fusão de trevas e luz, berço antigo de diversas e divergentes culturas, a cidade convida-nos a comungar da esperança de que a tolerância pode ser um sentimento ecuménico.
E ao sairmos, fica no ar, perfumado de jasmim, o sinal de uma promessa de paz. Que nós guardamos como possível, apesar dos homens, levianos, nos apregoarem tempestade.
A cidade surge-nos ao longe, imenso e plácido mar de ruelas emaranhadas em tons ocre e volumetria homogénea, amortecida à distância pela leve neblina que sobe do rio, a essa hora azul por espelhar sem constrangimentos o céu transparente e doce.
O distanciamento porém ilude-nos. A cidade, à medida que nos aproximamos, revela um labiríntico sobe-e-desce de ruas, esquinas, passagens, praças e becos, tecido arquitectónico de traça medieval erodido pelo tempo. A quebrar a mansidão da planície urbana sobressai, majestosa e vigilante, a torre alta da catedral, farol místico que derrama sobre a cidade a insinuação de uma religiosidade ecléctica. Porque esta função já terá sido desempenhada, em tempos outros, por minaretes e cúpulas sefarditas.
Fusão de trevas e luz, berço antigo de diversas e divergentes culturas, a cidade convida-nos a comungar da esperança de que a tolerância pode ser um sentimento ecuménico.
E ao sairmos, fica no ar, perfumado de jasmim, o sinal de uma promessa de paz. Que nós guardamos como possível, apesar dos homens, levianos, nos apregoarem tempestade.
Cidade : território de emoções, avassalador e terno.
25 comentários:
Este texto, sendo o que é em si mesmo, tem ainda uma outra "qualidade" que me atrevo a revelar (para os leitores que o não sabem...). Foi a resposta a uma espécie de desafio (blogueiro) para que os desafiados escrevessem um texto onde se incluissem 12 palavras, que compunham uma lista. Pois, a partir daí dessa lista, a dona Justine escreveu este texto e desafio (agora eu a) que descubram se sentem estar lá alguma "metida a martelo". Tal a sua qualidade (sem aspas).
É claro que sou suspeito, faço parte do "quarteto"..., mas não resisto a vir dizer o que deve ser sabido.
M'olive, e eu práqui a corar, que nem sei se o elogio é merecido, mas que sabe bem, sabe!!
Mas já te pedi para não revelares os "making offs", senão lá se vai a magia :))
Claro que não os revelo... todos. Só aqueles que, a meu juizo, têm de ser revelados.
justine,
guiados pelas tuas imagens e palavras, avistamos a cidade,adentramo-nos nas suas ruas e comungamos, contigo,o mesmo sonho.
prova de que um olhar pode ser revelador e poisar, em tudo, histórias e significados.
um abraço, grande. e muitas marradinhas para esse gatarrão sortudo que aí vive convosco.
gosto de cidades com carácter. como Toledo.
...e que bem que tu descreves a sua "respiração"...
abraços
Bela viagem. A do texto, também.
Bj
a linda Justine e a leveza da substância...
:)
Essa revelação das palavras escondidas no texto teve vários efeitos positivos.
Assim de repente, dei por mim a reparar mais na qualidade da escrita, a obrigar-me a lê-lo quatro ou cinco vezes, a observar muito melhor as fotografias...
Abreijos
Claro que Toledo é uma cidade criativa...
Onde está a criatividade da nossa?
Só no facto de continuar a ser um território de emoção...para alguns e de lamentação por causa de outros!
Abraço
Li o texto e ia comentar e sair mas aííí, começou este piano a tocar. Vou ficar mais um pouquinho. Posso?
beijinhos e...devo ter sido uma pianista em outra vida.
Uma apurada e depurada descrição da cidade. Diria quase "táctil".
Um beijo.
Ficou tudo como uma sinfonia: as palavras e as fotografias, a partida dos olhos já adivinhada pela rede...
Bjinho
Consegues moldar a imagem às belíssimas palavras ao som da música.
Tão belas são as palavras, como as fotos que dizer mais?
Muitos Parabéns,
GR
Desta vez - estarei errado? - acho o texto inequivocamente superior a tudo - incluindo as fotos: QUE GRANDE TEXTO!
Parabéns, obrigado - e um beijo amigo.
Sempre estás de partida, afinal...
És sempre assim? Uma pessoa que chega e parte para outros lugares?
Não te custa a despedida?
Voltarás?
.
.
.
Boa viagem, para outra paragem.
Que os ventos te sejam favoráveis
e as marés, também.
.
.
.
[BEIJO]
Justine
Pela segunda vez no mesmo post, só que completamente off-topic, apenas para dizer que reparei agora no disparate que é (por despassaramento) ainda não ter pendurado devidamente o "Quartetodealexandria" na lapela do "Cantigueiro".
Dentro de 15 segundos já lá estará.
Abreijo
Justine,
que post fantástico!
Enquanto olhamos as fotografias, deixamos derreter o sabor do texto na memória, percorremos a par e passo o teu percurso e quando damos por nós, é noite!!!
Fiquei com vontade de conhecer Toledo...
Beijinho
Três suspeitas: insinuação, tolerância, jasmim.
Acertei alguma?
Se sim, quero só dizer que não soam nada "metidas a martelo", só engrandecem o belo e inspirado texto da Justine.
Se não acertei, paciência. É mesmo porque o texto é muito bom e coerente.
Beijinhos para aí
Sal, para ti e para outros amigos que tenham curiosidade, as palavras eram:amortecida -avassalador-céu-comungar-distanciamento-azul-erodido-farol-fusão-imenso-mar-tempestade.
Acertaste ao lado :))!!
E se quiseres jogar, dou-te o contacto do "promotor" do jogo
Beijo
e vinha eu aqui toda orgulhosa saudar a minha grande justine e... bolas.... cheguei atrasada!
É que, ao passar pelo Eremita, precisamente para ler os textos em concurso, deparo-me com o teu.
E a avaliação foi: Excelente!
Aconselho toda a malta a lá ir. Vale a pena ver a nossa justine a brilhar entre a intelligentsia blogueira.
E agora?
O que é que eu digo?
Só podia!
Vou entrar no coro...Adorei!
Bjo
José Manangão
Lindas as fotos e o teu texto. E o Mounty?
Neste conjunto de fotografias e texto, ele ganha ainda mais. Gostei muito.
¡Me gusta Toledo!
Jamás había leído algo tan bello y tan apropiado, a una ciudad por la cual han desfilado inmensas culturas, pero que nunca nadie le ha dirigido un texto tan sublime.
Una vez más queda manifiesto que las ciudades son libros que se leen andando...
La felicito
Pois de atrasos nem falo, que tais são os pecadilhos que, por qualquer sortilégio, daqui saio mais atrasado ainda: são pausados os olhares sobre as belezas que (tão bem) fotografaste como (tão bem) as descreveste...
Lindo!
abraços!
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