Era assim que gostava de o encontrar. Sem premeditação nem combinações prévias, deixando aos humores dos deuses a escolha do local onde nos iríamos cruzar. E quando o encontro acontecia, VARIÁVEL no tempo mas sempre prenhe de alegria e descoberta, procurávamos um CASULO onde nos isolávamos do INFERNO da cidade, fosse ele um jardim ou a beira-rio, e entregávamo-nos a uma longa, lenta e sempre inacabada CONVERSA.
Falávamos então de todas as incertezas. Ele, NEFELIBATA sem o saber, estudava pássaros e contava-me como voava com eles. Eu, mais prosaica, acompanhava-o com o coração, sorria e reafirmava que iria salvar o PAÍS com o verbo e a raiva. Por ali ficávamos, convocando memórias e desejos, até à hora em que o LUAR se punha e as primeiras pinceladas da madrugada vinham INUNDAR o nosso silêncio cansado e fértil.
Naquele dia, contudo, ele estava diferente. Uma sombra desconhecida a embaciar-lhe o olhar, a quebrar-lhe a postura VERTICAL, a traçar-lhe reticências nas frases: que quando desprezamos o corpo ele se revolta e nos trai, que o seu corpo o ia trair - assim afirmavam os que sabiam de ciência certa. Não enunciou a palavra morte. Mas sobre nós escureceu uma nuvem de húmido VAPOR vinda do fundo do medo, envolvendo-nos num MOVIMENTO circular e paralisante. Ele, já recolhido num OSTRACISMO desistente. Eu, perplexa e atordoada. Infinitamente só, li nos seus olhos o adeus, e sorrindo chorei sem lágrimas a nossa amizade interrompida.
Falávamos então de todas as incertezas. Ele, NEFELIBATA sem o saber, estudava pássaros e contava-me como voava com eles. Eu, mais prosaica, acompanhava-o com o coração, sorria e reafirmava que iria salvar o PAÍS com o verbo e a raiva. Por ali ficávamos, convocando memórias e desejos, até à hora em que o LUAR se punha e as primeiras pinceladas da madrugada vinham INUNDAR o nosso silêncio cansado e fértil.
Naquele dia, contudo, ele estava diferente. Uma sombra desconhecida a embaciar-lhe o olhar, a quebrar-lhe a postura VERTICAL, a traçar-lhe reticências nas frases: que quando desprezamos o corpo ele se revolta e nos trai, que o seu corpo o ia trair - assim afirmavam os que sabiam de ciência certa. Não enunciou a palavra morte. Mas sobre nós escureceu uma nuvem de húmido VAPOR vinda do fundo do medo, envolvendo-nos num MOVIMENTO circular e paralisante. Ele, já recolhido num OSTRACISMO desistente. Eu, perplexa e atordoada. Infinitamente só, li nos seus olhos o adeus, e sorrindo chorei sem lágrimas a nossa amizade interrompida.
(Jogo das 12 palavras, in Eremitério)
36 comentários:
Aqui nasceu o Espaço que irá agitar as águas da Passividade Portuguesa...
De novo digo, e persisto, e assino - "à Brel" -, que estes textos me parecem excelentes. Sobretudo porque, sendo um exercício, a partir e obrigando a inclusão de 12 palavras, a justine os consegue escrever com tal (que dizer?, como dizer?) consistência e fluência que, a não assinalar quais as palavras obrigatórias, de certeza não se descobririam as 12... vá lá, 1 ou 2 ou 3... talvez.
Se os outros participantes no livro têm semelhante qualidade... que grande livro de escrita em português (com ou sem acordo!).
Parabéns
DIZQUEMSABE: Estou "babadíssima"! A sério! E vou dormir bem...
Fiquei em suspense até ao fim...e assim continuei!
Um belo pedaço de prosa ficcionada ...ou não!
Abraço
mais um pequeno(grande) conto...pena não ter mais capítulos...
fiquei com a mesma pena no anterir...
sabe, este vosso jogo faz-me muito lembrar os últimos livros de prosa de «José Fanha» e seus amigos...(deliciosos, acho)
deixei-lhe um pedacinho do "meu" mar num seu post de Ag.07 mas acho que não viu!
bom fim-de-semana
um sorriso :)
Justine comovente e belo este teu texto, escrito a partir das 12 palavras escolhidas, o que o torna mais brilhante ainda...
Só tem um defeito: ficou a saber a pouco!
Mounty e que tal convenceres a tua dona a investir umas horitas da reforma na escrita?
Um beijinho
nada sei desses jogos. sei que o texto é excelente. isso me basta...
As doze palavras vão aparecendo com a mestria que só um sublime pode imprimir ao vocábulo. Dei fé disso desde o primeiro momento, do teu dão da palavra. Hoje fazes-nos uma demonstração da arte de escrever.
Ademais dá a sensação de que o fazes desfrutando, que ainda é melhor.
Impávido fiquei, ante tanta audácia, e desejando que nunca acabasse.
Fizeste-me muito feliz, claro que sim.
Um sorriso quando o que apetece é diluviar essa gota que não cai, essa humidade que não chega, quanto custa, como dói, a presença da ausência.
Um hurra
Fizeste-me feliz, que pena, foi breve, mas dura o que aqui ficou
Um grande abraço
E um texto muito bonito e... sensível... tem a tua cara...
Estou ansiosa que surja o livro, para poder ler o conjunto de participações neste desafio.
Parabéns, Justine.
Um beijo
Gostei do conto quando o li; gostei mais ainda quando vi que se tratava de um "exercício" que tinha como fim, ligar as palavras assinaladas com maiúsculas; a pova foi superada com distinção.
Beijinho.
É como já disse noutro lugar: gosto muito!
E como alguém ali em cima disse, na verdade, sendo escrito a partir de 12 palavras sugeridas por outros, não damos por elas, de tal maneira estão naturalmente dentro do deslizar do texto. E a fotografia acompanha-o muito bem.
É uma enorme maldade para com certos "escritores e escritoras", em alguns casos, tão reconhecidos...
Abreijos
Ó Justine...isto...logo hoje...
Gostei, e tocou-me especialmente, esta tua brincadeira das 12 palavras.
bBeijos
Uma beijoca.
Bom resto de fim de semana.
Justine
Dizes na respota a um comentário que , estás "babadissima" eu penso que devias estar "babadississississima"!
Abraço
não Justine, não sou do Pico, sou Albicastrense e moro pertinho da costa Oeste...e procurei um belo mar seu p'ra deixar coment, só isso.
Bom resto de Domingo
um sorriso :)
(mais um)excelente texto, cara justine. e este tocou-me profundamente. embora julgue que a sombra da morte paira sempre sobre nós mas que, distraídos com as cores mais vivas do existir, nem sempre dela nos apercebemos. a morte, porém, não interrompe nenhum laço de afecto mas, "apenas", alguns rituais de mútua e nem sempre explícita afirmação desse afecto.
ando com muito pouco tempo para a blogosfera mas soube-me bem passar aqui, observar a árvore em surpreendente abraço e voltar a constatar que os lugares de infância persistem em nós, mágicos e eloquentes.
marradinhas amistosas desta felina demasiado atarefada.
Excelente história, emoção e criatividade...
Inspiração felina gato mto bonito
beijinhos das nuvens
por tudo e pela música
lembrei-me [ revi
morte em veneza.
beijo
~
Um breve adeus apenas?
ABraço
senhores ouvintes!!!!...
Justine!!!
é mesmo MESTRA nisto!!!!
Parabéns :)!
beijocassssss
vovó Maria
No entanto, insisto: com essas (ou com outras) doze palavras, o texto é muito belo...
Um beijo.
Apresento-lhe a minha nova faceta.
Abraço respeitoso.
Excelente história sobre (com) doze palavras!...
abraços!
Olá Justine
Acho que resolveste bem o jogo das palavras.
A distribuição está equilibrada e o enredo não parece ressentido da norma de utilização das palavras.
Bjs
Gosto muito da história que, agora isolada, tornei a ler. Ganhou outro impacto e consistência.
Parabéns pela tua fascilidade descritiva.
Um grande abraço.
Este texto fez-me lembrar o meu mais romoto amigo que conheço desde os meus 9 anos, estamos sempre a encontrar-nos e a perder-nos, mas já nem ligo que sei que um destes dias reaparecerá.
Bjs
TD
linda Justine:
Mais uma vez não só resolves o desafio, como desafias a tua imaginação e boa escrita...
beijinho
:)
O corpo por vezes não obedece
é preciso dar-lhe mais oportunidades
Eu acho este teu texto de uma beleza soberba! Parabéns, amiga!
E a imagem que escolheste para o ilustrar cativou-me!
Beijinho
Justine, que magnífico texto.
Imagina que não sabia que também fazias parte do jogo:)
Eu só escrevi para o 1º.
Com muita pena minha, mas não tive tempo.
Parabéns. Bem podes estar babada.
Beijinhos e veludinhos
boa semana
(acho que ainda há ar dentro daquele onde estou...ainda cabe...ou ofereço-lhe outro..."toca a flutuar" também!)~~~~
fique bem
um grande sorriso :)
Transfiguras.
Os sentimentos, tens esse dom de reflectir a luz...
Bjinho
Também pouco me são, estes jogos, mas o pequeno conto [será só ficção?...] é muito bom.
.
De tristeza para outra, revi uma despedida de uma minha amizade interrompida... e pergunto-me, por mera curiosodade [quiçá mórbida...] se não será autobiográfico?
.
[Beijo para a autora e para todos os amigos e amigas que nos deixaram, com uma amizade, assim...]
Este texto não é prosa bem escrita, é bonito texto de amor buscado nas profundezas da mais pura poesia.
Saúdo-a
Fiquei preso ao texto. Suspense até à última palavra.
Intenso.
Parabéns.
http://desabafos-solitarios.blogspot.com/
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