Não encontrei todos. Darley há muito que se afastara para os labirintos da sua ficção; Clea já não tem o seu estúdio na Rua Fouad, mas ainda adivinhei o seu perfume no salão do Cecil, onde ela ia dançar com o pai nas noites de São Silvestre; Mountolive é apenas lembrado na placa do bar do hotel e na mente enevoada de Leila.
Mas vislumbrei a sombra de Balthazar na esquina da Rua Lepsius (que já não tem má-fama e agora se chama Sharia Sharm-el-Sheik), subindo sorrateiramente para casa de Kavafis. Continuam a encontrar-se para discutir poesia e cabala, que para eles é a mesma coisa...
(O prazer de viajar nos livros. O prazer de reinventar as páginas de L.Durrell nas ruas da cidade, que assim permanece imutável e misteriosa como todas as obras de arte)
O Deus abandona Marco António
Quando subitamente se ouve à meia-noite
um cortejo que invisível passa
com sublimes músicas e cânticos –
a tua fortuna que desiste, as tuas obras
que falharam, os planos de uma vida inteira
tornados nada -, não te vale chorar.
Como aquele de há muito preparado, corajosamente
diz-lhe adeus, à Alexandria que de ti se afasta.
Acima de tudo não te iludas, nunca digas que foi
apenas sonho, um engano, quanto ouviste:
não te agarres a tão vãs esperanças.
Como aquele de há muito preparado, corajosamente,
e como é próprio de quem, como tu, era digno de uma tal cidade,
aproxima-te firme da janela,
e escuta emocionado, mas não
com lamentos e súplicas cobardes,
escuta, derradeira alegria tua, os sons que passam,
os sublimes instrumentos do cortejo místico,
e diz adeus, adeus à Alexandria que perdeste.
K.P. Kavafis
(in 90 e mais quatro poemas, tradução de Jorge de Sena, Inova, Porto, 1970)
Quando subitamente se ouve à meia-noite
um cortejo que invisível passa
com sublimes músicas e cânticos –
a tua fortuna que desiste, as tuas obras
que falharam, os planos de uma vida inteira
tornados nada -, não te vale chorar.
Como aquele de há muito preparado, corajosamente
diz-lhe adeus, à Alexandria que de ti se afasta.
Acima de tudo não te iludas, nunca digas que foi
apenas sonho, um engano, quanto ouviste:
não te agarres a tão vãs esperanças.
Como aquele de há muito preparado, corajosamente,
e como é próprio de quem, como tu, era digno de uma tal cidade,
aproxima-te firme da janela,
e escuta emocionado, mas não
com lamentos e súplicas cobardes,
escuta, derradeira alegria tua, os sons que passam,
os sublimes instrumentos do cortejo místico,
e diz adeus, adeus à Alexandria que perdeste.
K.P. Kavafis
(in 90 e mais quatro poemas, tradução de Jorge de Sena, Inova, Porto, 1970)
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Almost like being in love, Sonny Rollins with The Modern Jazz Quartet
20 comentários:
... à Alexandria que perdeste... e assim terminas, com o poema de Kavafis (parece-me bem mais prosa - e da muito boa - que poema, e com excelenete contribuição de Jorge de Sena). Mas eu diria que Alexandria é sempre recuperável. Nós a recuperámos. Para nós. E tu... muito mais para ti a recuperaste, como o provas nestas legendas que fazem um belo texto de registo e de recuperação do vivido em ficção que tornaste realidade, pelos lugares, pelos cheiros, pelos sons, pelas cores dos pôres do sol.
Boa viagem... não é um desejo pio, é uma comprovação vivida.
Até já
um final "em grande", justine. e não me refiro apenas ao poemas mas às fotos e texto de tua autoria.(eu sabia, eu sabia que havias de o "encontrar"... :) mas foi muito bela a maneira de no-lo contares, com essa enorme sensibilidade que te caracteriza).
um abraço, um abraço. e grata pela partilha desta viagem, com tantas outras dentro.
Mas que fascinante tour por Alexandria foi por aqui proporcionado. Obrigado.
Beijos
As fotos e o texto que escreveste estão óptimos.
Bem finalizado pela tradução do poema do Kavafis.
Resumindo, este post ficou excelente.
Beijos.
fantastico, fiquei com saudades :)
obrigada pela viagem
Beijos
Paula
Dá para sentir a tua satisfação em cada passo dado, em cada descoberta ou em cada identificação. Fico feliz por ti, minha amiga.
beijos em noite de madrugada longa.
Alexandria a reunir Durrell e Kavafis.
Bravo!
Lá estavam todos: os personagens do quarteto... como se tivessem encontro marcado contigo.
Belíssimo!
Um beijo.
justine, por acaso ficaste com o endereço de email ou contacto telefónico do ruivinho catita que está na última foto do post anterior?
marradinhas de uma felina, hoje sonhadora... (suspiros)
Que grande prazer ler-te a ti, Justine, evocando o "Quarteto de Alexandria" no teu Quarteto de Alaxandria!
Abraço
Um texto mais que fantástico! sem esquecer as personagens principais!
Maravilhoso.
Bjs
"Ítaca deu-te a bela viagem.
Sem ela não te porias a caminho"
K.P.Kavafis (não sei de onde, apontado por aqui em papeis!)
Foi um prazer encontrar(te) assim, próxima da beleza, uma vez mais: sempre perseguiremos o sonho, por ele vamos. Mesmo que e além.
Bjinho
Jamais me esquecerei que foi o magnífico "Quarteto de Alexandria" e os seus inesquecíveis personagens que me aproximaram deste blogue e da sua inspirada autora. De facto, há obras que ultrapassam em muito as letras impressas e os momentos de prazer balizados pela sua leitura. Há obras que perduram.
Um abraço e um óptimo fim-de-semana!
Estou a adorar este teu encontro ao vivo com o livro de L.Durrell. Transparece nas tuas palavras e nas tuas fotografias o prazer enorme que essa viagem te deu.
O teu Mounty tem um bar?
Avisa-o que a empresa que escreveu o nome se esqueceu do "u"
:)
A realidade, a ficção e o teu modo de dizer. Ah poizé! O resultado é um grande prazer de quem, ficando, embarca completamente.
Beijinho
:)))
Gostei de passear contigo, lado a lado, em busca dos personagens dos livros do Quarteto de Alexandria... sim, já estão pedidos e estou desejoso de começar a lê-los...
Um excelente trabalho de pesquisa e fotográfico. Parabéns.
Abraço-te agradecido por permitir-me descobrir aspectos tão compensadores. :)))
Que post maravilhoso, completo, perfeito.
As fotografias,o teu texto, o poema final e até o humor de um bar do Mounty.
Uma maravilha que dá gosto ler.
Beijinhos, Justine
O teu fascínio por Alexandria é contagiante.
Linda, a última foto.
Bjs,
GR
'Atao esse Miaugajo tem um bar??! Agora eh que me tramasteis...
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